A sustentabilidade é um tripé econômico, social e ambiental, declarou Soren Knudsen, especialista no assunto, em palestra a alunos do 59.º Curso de Classificação e Degustação de Café da Associação Comercial de Santos (ACS), na manhã de terça-feira, 14 de julho de 2015.
A exposição foi feita na Sala de Classificação e Prova de Café da Associação Comercial de Santos, na Rua XV de Novembro, 137 - 3.º andar, no Centro Histórico.
O curso começou em 6 de julho e terminará em 30 de julho, com 20 alunos - 10 japoneses (5 homens e 5 mulheres), 1 mexicano, 1 britânica, 1 italiano e 7 brasileiros, totalizando 20 inscritos. As aulas ocorrem diariamente, de segunda a sexta-feira, das 8 às 11 horas.
As aulas são orientadas pelo professor Nilton Ribeiro, classificador de café que atuou durante 55 anos na Stockler Comercial e Exportadora. A tradução do japonês para o português e vice-versa é feita pela tradutora Sayoko Nakai.
"A sustentabilidade tem três premissas básicas", disse Knudsen. Uma é econômica, com o objetivo de otimizar o capital financeiro. Outra é social, para otimizar o capital humano e social. E a terceira é ambiental, com a meta de otimizar o capital ambiental. "Sem uma das bases desse tripé, a sustentabilidade cai".
Sustentabilidade, de acordo com definição clássica, é suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas.
"A água é elemento essencial para a agricultura, para a natureza e para o café", segundo Knudsen. Em colheitas recentes, ou houve água demais, ou faltou. "E a água impacta a qualidade do fruto do café".
A rastreabilidade é outro ponto fundamental no que diz respeito à sustentabilidade. "Rastrear é manter os registros necessários para identificar os dados relativos à origem e ao destino de um produto", conforme definição clássica.
A certificação também faz parte da sustentabilidade. "Certificação é a avaliação de um processo", de acordo com Knudsen. "São critérios que visam verificar o cumprimento de requisitos por meio de indicadores rastreáveis". Verificados os indicadores, é conferido um certificado com o direito de uso de uma marca de conformidade associada ao produto ou imagem institucional".
Existem sete certificações ou verificações essenciais para os interessados no mercado cafeeiro internacional: Basic Ifoam Organic Standard (de café orgânico), Fair Trade, Rainforest Alliance, UTZ Certified, Código Comum da Comunidade Cafeeira (4C), Starbucks Cafe Practices e Nespresso AAA.
A expectativa é que neste ano de 2015 os cafés certificados respondam por 20% a 25% do café mundial.
Os cafés com a certificação Basic Ifoam Organic Standard são distribuídos metade nos Estados Unidos e metade na Europa e representam 2% do consumo norte-americano. O maior produtor mundial é o Peru, seguido pela Colômbia. O prêmio médio é de 20% acima da bolsa de Nova York.
O mercado de cafés Fair Trade é distribuído 50% para a União Europeia e 45% para os Estados Unidos. Representa 3% do consumo norte-americano. Um detalhe é que mais de 40% de cafés Fair Trade são orgânicos.
Cerca de metade dos cafés Rainforest Alliance vai para a Europa. Este mercado da Rainforest representa cerca de 2% do consumo norte-americano. O Brasil é o maior produtor mundial.
O norte da Europa é o maior comprador de cafés com a certificação UTZ Certified, mercado que está em constante crescimento desde 2002.
O Código Comum da Comunidade Cafeeira certifica cafés arábica e robusta. O maior mercado é a Europa. O maior produtor mundial é o Brasil, seguido pelo Vietnã.
A certificação Starbucks Cafe Practices foi criada pela própria empresa, para garantir a qualidade desejada aos cafés servidos na rede de cafeterias. Os fornecedores de cafés - classificados em verificados, preferidos e estratégicos - têm preferência de contratos de fornecimento de acordo com a avaliação dos critérios da companhia. Os fornecedores estratégicos recebem um ágio no primeiro ano de fornecimento. O Brasil é o maior fornecedor.
A Nespresso AAA é uma certificação específica da Nestlé para o café. Além de atender aos requisitos de qualidade Nespresso AAA, é necessário que o produtor tenha a Rainforest. É a demanda que mais cresce atualmente.
TENDÊNCIAS
Soren Knudsen antecipou que, para os profissionais do mercado cafeeiro, algumas tendências precisam ser devidamente consideradas: a proteção às florestas, as mudanças climáticas, a proteção à vida silvestre, o combate à extrema pobreza e a necessidade de uma gestão empresarial eficiente.
Há também desafios que exigem ser encarados, como o crescimento exponencial da demanda de café e o crescimento geométrico da oferta, segundo Knudsen. "Embora a demanda cresça, a oferta pode apresentar um nivelamento, pois os produtores mais aptos a se certificarem já estão no mercado. O segundo patamar de produtores terá mais dificuldades em obter certificações mais restritas".
O especialista observa que, internacionalmente, ocorre "a consolidação de grandes cadeias de fornecimento particulares, guiadas pelas multinacionais, cada qual com o seu selo de preferência".
Outra tendência é a ocorrência de "certificações múltiplas em todo o café oferecido pelas entidades ofertando o mercado".
Soren Knudsen entende que também se verifica "estreitamento das relações comerciais pela cadeia, assegurando fidelidade e entrega".
Para Knudsen, "a Starbucks Cafe Practices, a Nespresso e a 4C apresentam as melhores oportunidades por volume com qualidade específica". Ele aponta que "a 4C oferece a melhor oportunidade de volume de café mainstream".
"A Rainforest apresenta a melhor oportunidade para cafés de qualidade com ágio", segundo Knudsen. "O Brasil é o único país que oferece todas essas condições".
O site do especialista pode ser conferido em: http://www.sorenknudsen.com.br
CURSO DE JULHO
O 59.º Curso de Classificação e Degustação de Café da Associação Comercial de Santos incluiu, nos dias 10 e 11 de julho, uma viagem à Fazenda Iracema e ao armazém da Dínamo, em Machado, no sul do Estado de Minas Gerais.
O curso terá também uma palestra sobre o mercado de café, com informações sobre as bolsas de Nova York e Londres, apresentada por Nicolaus Fallmeier e Alexandre Ferraz, ambos da Stockler.
A formatura acontecerá em 30 de julho, no final da tarde, no Auditório da Associação Comercial de Santos.
ALUNOS ESTRANGEIROS
Alberto G. Sada Zambrano (mexicano) - Eisa - Empresa Interagrícola S.A.
Ayaka Fujii (japonesa) - UCC - Ueshima Coffee do Brasil
Emi Ueda (japonesa) - UCC - Ueshima Coffee do Brasil
Grace Gallagher (britânica) - Cia. Iguaçu de Café Solúvel
Kohei Sano (japonês) - Mitsui Alimentos
Koji Ogawa (japonês) - Cia. Iguaçu de Café Solúvel
Mao Oshiguchi (japonesa) - Cia. Iguaçu de Café Solúvel
Mika Okuda (japonesa) - Cia. Iguaçu de Café Solúvel
Nami Aoyama (japonesa) - Cia. Iguaçu de Café Solúvel
Nobuhiro Higashiyama (japonês) - UCC - Ueshima Cofee do Brasil
Oliviero Remmert (italiano) - Stockler
Takumi Fujimoto (japonês) - Mitsui Alimentos
Yuichi Hatayama (japonês) - Mitsui Alimentos
BRASILEIROS
Douglas Saka Zanella - Outspan Brasil Import. Export.
Fabricio dos Santos - GGA - Corretora de Mercadorias
Fernanda Jordão - Volcafe
Lucas Piccoli de Souza
Midiã Menezes Viana
Rubens Eduardo Viana
Victor Mauri da Costa Reme Alves - Rei do Café
CURSO DE CLASSIFICAÇÃO E DEGUSTAÇÃO DE CAFÉ
O Curso de Classificação e Degustação de Café da Associação Comercial de Santos teve início em 1989, com o objetivo de capacitar os alunos a identificar as características do produto, atender às exigências do mercado e criar oportunidades de negócios. Desde então, mais de 800 alunos já foram habilitados.
Além de despertar o interesse de profissionais do mercado cafeeiro do Brasil, o curso da ACS é reconhecido também pelos principais países consumidores. No mês de julho de cada ano, japoneses que atuam em empresas relacionadas à indústria do café vêm a Santos especialmente para o curso da Associação Comercial. Profissionais de outras nações complementam as turmas de julho.
O curso é supervisionado pelo presidente da Associação Comercial de Santos, Roberto Clemente Santini, e pela coordenadora da Câmara Setorial de Exportadores de Café da ACS, Evelyse Lopes.
São duas horas diárias durante quatro semanas de aprendizagem teórica e prática sobre a história do café, produção, armazenagem, aspectos econômicos nacionais e internacionais, legislação, tecnologia, fiscalização, identificação de grãos, prova de bebida e desenvolvimento de blends (misturas) de cafés.
As aulas teóricas são ministradas na Sala de Classificação e Degustação de Café da Associação Comercial de Santos, no 3.º andar. Palestras ministradas por especialistas - em sustentabilidade e no mercado cafeeiro - complementam as aulas.
Também na Sala de Classificação e Degustação de Café ocorrem as atividades práticas - de classificação dos grãos verdes e de degustação, realizadas diariamente, até o final do curso. Os alunos observam as características dos grãos e provam os cafés, sentindo o aroma e o sabor da bebida.
O programa do curso inclui ainda visita a uma fazenda de café e a um terminal de exportação e beneficiamento de café, este da Dínamo Inter-Agrícola, o único no Porto de Santos.
Para participar do curso é necessário ter 18 anos de idade, cópia do diploma ou certificado de conclusão do Ensino Médio ou equivalente, atestado de sanidade bucal emitido por profissional habilitado e cópia da carteira de identidade (RG) ou passaporte.
Ao final, os alunos com frequência mínima de 80% e com bom desempenho nas aulas recebem certificado e carteira de classificador, além de uma colher de prova de café.
O curso tem edições em março, maio, julho, setembro e novembro.
Mais informações podem ser obtidas na Associação Comercial de Santos, pelo telefone (13) 3212-8200, ramal 220, e-mail: acs@acs.org.br