19 de junho de 2013

"Inovação só acontece quando as pessoas interagem entre si", afirma professor da Ufscar, em palestra na Associação Comercial de Santos

"Inovação só acontece quando as pessoas interagem entre si", afirma professor da Ufscar, em palestra na Associação Comercial de Santos

O professor Nelson Guedes de Alcântara, diretor executivo do Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais (CCDM) da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), do Interior do Estado de São Paulo, afirmou que "a inovação só acontece quando as pessoas interagem entre si", em palestra realizada, na tarde desta quarta-feira, 19 de junho de 2013, no Auditório da Associação Comercial de Santos (ACS), na Rua XV de Novembro, 137 - 1.º andar, no Centro Histórico.

Alcântara falou sobre "Inovação Tecnológica: Estratégia e Gestão" após encontro do Conselho de Administração da Fundação Parque Tecnológico de Santos, realizado na Sala de Reuniões da ACS, no 1.º andar, coordenado pelo secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação, Omar Silva Junior, e que contou com a participação de representantes de universidades e de outras entidades, além dos secretários municipais de Desenvolvimento Urbano, Nelson Gonçalves de Lima Júnior, e de Finanças, Álvaro dos Santos Silveira Filho.

O diretor executivo da Associação Comercial de Santos, Marcio Calves, também participou da reunião, porque a entidade é uma das integrantes do Conselho de Administração do Parque Tecnológico, que é presidido por Omar Silva Junior.

O 1.º suplente da Diretoria Executiva da ACS, Edison Monteiro, que é também coordenador da Câmara Setorial de Instituições de Ensino da Associação Comercial de Santos, integrou as discussões do encontro, que teve, entre outros objetivos, debater o projeto de construção do Parque Tecnológico de Santos e as instalações do Laboratório de Logística e Mobilidade Urbana (Logmob) que integrará esse equipamento.

Princípios de inovação

Alcântara, na palestra no Auditório, citou que há princípios de inovação que devem ser seguidos para que se chegue a um resultado inovador. "Pratique a simplicidade. Se for complicado, não é inovação. Tudo o que for produzido, tem que ser simples". Ele é contratado da Ufscar desde 1976, quando concluiu o curso de Engenharia de Materiais. Em 1978, concluiu mestrado em Engenharia Mecânica pela Unicamp. Em 1982, obteve o título de doutor pela Universidade de Cranfield, na Inglaterra, e em 2008 realizou pós-doutorado em Inovação Tecnológica na Michigan State University, dos Estados Unidos.

Outro fundamento da inovação é que deve ser estratégica, de acordo com o diretor executivo do CCDM. "Se a inovação não fizer parte da estratégia da empresa, não acontece. É um fato em qualquer país. A inovação tem riscos, demora um certo tempo para acontecer, pois se trabalha com o desconhecido. Se der certo, vai estourar. A estratégia é um jogo de xadrez. Uma empresa pode fazer um planejamento estratégico para daqui a cinco anos, mas em dois anos ou menos precisa atualizar. O ciclo do mercado é muito rápido".

É essencial definir o tipo de inovação, de acordo com Alcântara. "A inovação incremental é a do dia a dia, a que mantém a empresa competitiva e é praticada por 95% das empresas. A inovação radical incorpora novas tecnologias e exige recursos, mas, se der certo, a empresa ganha muito dinheiro".

Além desses dois tipos de inovação, o diretor executivo do CCDM afirmou que é fundamental desenvolver novos modelos de negócios, prática que "tem a ver com empreendedorismo".

Um exemplo de inovação incremental foi citado pelo palestrante. Antigamente, os automóveis tinham duas chaves, uma para a porta e outra para dar a partida. Os japoneses questionaram por que dispor de duas chaves, se uma daria conta da necessidade. "Hoje, como evolução, a porta do carro é aberta até com controle remoto".

Quanto à inovação radical, Alcântara comentou que o telefone celular não existia décadas atrás. Quando a Apple desenvolveu o iPhone, trouxe inovações, como vender produtos e serviços pelo celular, mas aproveitando recursos existentes. "Daqui a três anos, o celular será completamente diferente do que é hoje. Como vai ser? Ninguém sabe".

No tocante a novos modelos de negócios, Alcântara lembrou o caso da General Electric (GE), que fabricava turbinas, motores e lâmpadas, entre outros produtos.  "A GE deixou de ser uma indústria para se tornar um grupo financeiro".

Alcântara alertou que, "quanto mais a empresa demorar para inovar, mais ficará para trás".

Ele afirmou que "a inovação só acontece quando as pessoas interagem entre si" e declarou que "a inovação parte de ideias". Por isso a necessidade de a empresa inovadora contar com uma equipe multidisciplinar, envolvendo, por exemplo, os setores comercial, jurídico e ambiental, enfim, os departamentos da companhia, além do fornecedor e do cliente, todos discutindo o produto.

"As pessoas", disse Alcântara, "devem ter competência profissional em suas especialidades e estar dispostas a atuarem com diferentes disciplinas. Dos debates, sai uma riqueza muito grande de informações, que devem ser registradas e armazenadas, para possível utilização no futuro".

Outro alerta do diretor do CCDM é que "pessoas destrutivas contaminam o ambiente". Há necessidade de que os participantes de uma equipe de trabalho sejam construtivos, no entender de Alcântara. "Todos devem dar ideias. É necessário respeitar a ideia, mesmo que seja diferente".

De acordo com Alcântara, "a inovação sem processo é pura sorte". Para ele, "a empresa que tem metodologia e sistema de gestão, trabalha com inovação".

Há 280 modelos de inovação no mercado, segundo Alcântara. "Mas nenhum deles servirá inteiramente para a sua empresa", havendo necessidade de mesclar modelos, para adequá-los às necessidades de uma corporação.

Um modelo citado por Alcântara é o Business Model Generation, que é muito simples e tem até literatura em português. Para obter mais informações, ele sugeriu uma busca no Google com o nome do modelo.

Quanto ao processo criativo para gerar inovação, Alcântara comentou que é importante divergir para criar opções, muitas ideias. Depois, será necessário convergir para fazer a escolha, filtrando qual a que se alinha à estratégia da empresa, qual é viável. "Não dá para trabalhar com todas as idéias, mas não jogue fora nenhuma ideia. É preciso registrar tudo".

Biomimetismo

Um processo de inovação bastante utilizado é o biomimetismo, a observação da natureza e dos animais, de acordo com Alcântara. Ele disse que o A-380, o avião da Airbus, teve a asa inspirada na águia-das-estepes. Em todo o mundo, os aeroportos não aceitam aviões com asa maior do que 80 metros. Observando o voo e a asa dessa águia, conseguiu-se reduzir a asa do avião de 82 para 79 metros.

Alcântara afirmou que o trem-bala também foi aperfeiçoado a partir da observação do martim-pescador, pássaro que tem um bico bastante fino. Os pesquisadores notaram que esse pássaro, ao mergulhar para fisgar o peixe, mergulha profundamente, não deixa um rastro de água e é silencioso. Entre outras inovações inspiradas no martim-pescador, o trem-bala, no Japão, foi redesenhado, resultando em economia, por exemplo, de 10% no consumo de energia, entre outros avanços.

"Sem comercialização, não existe inovação", disse Alcântara. Ele afirmou que as universidades são centros de pesquisa, mas não vendem produtos. Por isso é importante a parceria com empresas, que financiam as pesquisas e dão retorno à universidade, quando esta desenvolve um produto comercializável.

Outro ponto a ser considerado no processo da inovação é ouvir o consumidor, conforme Alcântara. "As pessoas não querem mais opções, querem exatamente o que querem. Os clientes não são mais usuários finais, mas sim são participantes de um processo de duas mãos. A empresa que não ouve o cliente, que não sabe lidar com as demandas do cliente, quebra a cara".

 

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