Soren Knudsen, especialista em sustentabilidade cafeeira, afirmou que "não há como viver sem o café do Brasil", que fornece cerca de 30% dos cafés consumidos no mundo. Ele fez a declaração em palestra aos 13 alunos do 58.º Curso de Classificação e Degustação de Café da Associação Comercial de Santos (ACS), na manhã desta terça-feira, 10 de março de 2015.
A explanação, sobre sustentabilidade, rastreabilidade e processos de certificação de cafés, foi realizada na Sala de Classificação e Prova de Café da entidade, na Rua XV de Novembro, 137 - 3.º andar, no Centro Histórico.
O curso começou em 2 de março e tem previsão de encerramento em 26 de março, com aulas diárias, das 8 às 10 horas, orientadas pelo professor Nilton Ribeiro, que durante mais de 50 anos atuou para a Stockler Comercial e Exportadora, do setor cafeeiro.
O 1.º vice-presidente da Associação Comercial de Santos, John Wolthers, da Comexim, exportadora de café, fez a apresentação de Soren Knudsen aos alunos do curso. "O Soren é dinamarquês, como eu, e há muitos anos vem dedicando a vida - ele é engenheiro - ao café. Com segurança, é um dos homens mais respeitados na área de sustentabilidade".
Ao iniciar a exposição, Soren Knudsen lembrou que as origens da Associação Comercial de Santos estão relacionadas ao café, pois a entidade foi criada, em 1870, há 144 anos, por empreendedores do setor. "É a casa que fixou o café, tanto em Santos, quanto no Brasil. Tudo o que o café contribuiu, para Santos e para o País, de atividades de câmbio à Bolsa de Café, passou pela Associação Comercial".
SUSTENTABILIDADE
"Sustentabilidade", informou o especialista, "é suprir as necessidades da geração presente sem afetar as gerações futuras de suprir as suas".
Para assegurar sustentabilidade, é essencial atender algumas premissas básicas, de acordo com Soren Knudsen. No âmbito econômico, é vital otimizar o capital financeiro. No aspecto social, otimizar o capital humano e social. E no ambiental, otimizar o capital ambiental.
"A legislação brasileira é uma das melhores do mundo no que diz respeito à sustentabilidade", observou o especialista. Se as leis não são cumpridas, é necessário maior cobrança no cumprimento, de acordo com ele. Para isso, Soren Knudsen citou um ditado de um dinamarquês: "Com leis, se constrói um país".
A eficiência gerencial e tecnológica é a chave para equacionar os impactos da ação humana e do crescimento populacional no planeta, conforme o especialista. "Se o café não criar problemas sociais e ambientais, há empresas que pagam mais por saca produzida", afirmou Soren Knudsen. E as empresas podem influenciar, exigindo práticas de eficiência gerencial e tecnológica, segundo o especialista, que informou que, na agricultura, há uma perda, uma quebra de 30% no volume transportado, a partir dos centros de produção até o Porto de Santos.
Soren Knudsen lembrou que a faixa equatorial da Terra tem a maior biodiversidade do mundo. "O café é plantado nesta região do planeta. Por isso há tanta preocupação com o café".
Outro ponto importante na questão da sustentabilidade é rastrear o produto. "Rastreabilidade é manter os registros necessários para identificar e informar os dados relativos à origem e ao destino de um produto", definiu Soren Knudsen.
A falta de controle de rastreabilidade gera perdas de qualidade dos processos e do produto, perdas ambientais, de saúde ocupacional e até perda patrimonial, alerta o especialista.
CERTIFICAÇÃO
A certificação é a avaliação de um processo, com critérios que visam a verificar o cumprimento de requisitos por meio de indicadores rastreáveis, conferindo o certificado o direito de uso de marca de conformidade associada ao produto ou imagem institucional, citou Soren Knudsen.
O especialista disse que, no mercado internacional, há algumas certificações e verificações: International Federation of Organic Agriculture Movements (Ifoam), Fair Trade (FLO), Rainforest Alliance, Utz Certified, Código Comum da Comunidade Cafeeira (4C), Starbucks Coffee And Farmer Equity (C.A.F.E.) Practices e Nespresso.
Soren Knudsen citou o estudo "Trends in the Trade of Certified Coffees" (Tendências no Mercado de Cafés Certificados), que estimou que o crescimento de cafés certificados crescerá de 8% em 2009 para 20 a 25% do mercado mundial de café em 2015.
O especialista apontou que há alguns desafios que precisam ser superados para manter a sustentabilidade, como o crescimento exponencial da demanda e a expansão geométrica da oferta.
"O café é sempre uma excelente oportunidade para negócios", declarou Soren Knudsen. "O Brasil é líder no mercado mundial de café. O País fornece 30% do café para o mundo. Não tem como o mundo viver sem café brasileiro. O Brasil é a aposta da minha vida. Este país é grande no café e continuará a ser. O Brasil vai liderar a batalha da sustentabilidade e vocês, novos profissionais do mercado cafeeiro, vão levar adiante esta luta. Estou há 15 anos no ambiente da sustentabilidade - e não me arrependo".
CURSO DE CAFÉ
O 58.º Curso de Classificação e Degustação de Café tem 13 alunos.
Eis a lista de alunos do 58.º Curso de Classificação e Degustação de Café da Associação Comercial de Santos:
Caian Matheus de Souza
Carlos Alberto Souza Santos - ACS Café
Emília Rosa Balsemão Pires - Balcoffee Trading
Felipe Augusto Lima de Oliveira - Noble do Brasil
Felipe Vinter Moura - Balcoffee Trading
Hallyson Gonçalves Ramos Nascimento - Museu do Café
José Paulo de Aguiar Júnior - Fazendas Glória
Marcelo Sidney Miranda - Noble do Brasil
Paulo Eduardo Dominguez Júnior – Master Blenders
Rodrigo Conceição Bezerra - Stockler
Thadeu Figueira Ribeiro
Wagner Maia Marinho - Museu do Café
Wiclafys Duarte Martins
O Curso de Classificação e Degustação de Café da Associação Comercial de Santos teve início em 1989, com o objetivo de capacitar os alunos a identificar as características do produto, atender às exigências do mercado e criar oportunidades de negócios. Desde então, mais de 800 alunos já foram habilitados.
Além de despertar o interesse de profissionais do mercado cafeeiro do Brasil, o curso da ACS é reconhecido também pelos principais países consumidores. No mês de julho de cada ano, japoneses que atuam em empresas relacionadas à indústria do café vêm a Santos especialmente para o curso da Associação Comercial. Profissionais de outras nações complementam as turmas de julho.
O curso é supervisionado pelo presidente da Associação Comercial de Santos, Roberto Clemente Santini, e pela coordenadora da Câmara Setorial de Exportadores de Café da ACS, Evelyse Lopes.
São duas horas diárias durante quatro semanas de aprendizagem teórica e prática sobre a história do café, produção, armazenagem, aspectos econômicos nacionais e internacionais, legislação, tecnologia, fiscalização, identificação de grãos, prova de bebida e desenvolvimento de blends (misturas) de cafés.
As aulas teóricas são ministradas na Sala de Classificação e Degustação de Café da Associação Comercial de Santos, no 3.º andar. Palestras ministradas por especialistas - em sustentabilidade e no mercado cafeeiro - complementam as aulas.
Também na Sala de Classificação e Degustação de Café ocorrem as atividades práticas - de classificação dos grãos verdes e de degustação, realizadas diariamente, até o final do curso. Os alunos observam as características dos grãos e provam os cafés, sentindo o aroma e o sabor da bebida.
O programa do curso inclui ainda visita a uma fazenda de café e a um terminal de exportação e beneficiamento de café, este da Dínamo Inter-Agrícola, o único no Porto de Santos.
Para participar do curso é necessário ter 18 anos de idade, cópia do diploma ou certificado de conclusão do Ensino Médio ou equivalente, atestado de sanidade bucal emitido por profissional habilitado e cópia da carteira de identidade (RG) ou passaporte.
Ao final, os alunos com frequência mínima de 80% e com bom desempenho nas aulas recebem certificado e carteira de classificador, além de uma colher de prova de café.
O curso tem edições em março, maio, julho, setembro e novembro.
Mais informações podem ser obtidas na Associação Comercial de Santos, pelo telefone (13) 3212-8200, ramal 220, e-mail: acs@acs.org.br