05 de setembro de 2013

"Falta mais abertura comercial para o Brasil", diz presidente da Associação Comercial de Santos em debate sobre café

O presidente da Associação Comercial de Santos (ACS), Michael Timm, afirmou que "falta mais abertura comercial para o Brasil", tanto no que diz respeito ao café, quanto a outros produtos da pauta do comércio exterior. Ele fez a declaração na discussão Mercado de Café - Brasil/Alemanha, na tarde desta segunda-feira, 2 de setembro de 2013, no Museu do Café de Santos.

O debate contou ainda com a participação do diretor geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Guilherme Braga; do presidente do Conselho de Câmaras Setoriais da Associação Comercial de Santos, Eduardo Carvalhaes Junior, também diretor do Escritório Carvalhaes; e do consultor Carlos Brando, da P&A Marketing Internacional, de consultoria, marketing e trading em agronegócios, de Espírito Santo do Pinhal, do Interior do Estado de São Paulo.

O diretor executivo da Associação Comercial de Santos, Marcio Calves, também esteve presente no evento.

A mesa-redonda integra o Ciclo de Debates Brasil & Alemanha, que terá, nesta terça-feira, 3 de setembro de 2013, às 16h30, a discussão Imigração Alemã no Brasil, sobre o trabalho imigrante nas lavouras cafeeiras, o sistema de parcerias e a influência cultural.

O debate - que ocorrerá também no Museu do Café, na Rua XV de Novembro, 95, no  Centro Histórico - terá palestras de Silvia Cristina Lambert Siriani, Débora Bendocchi, André Munhoz de Argollo Ferrão e Mercedes Gassen Kothe.

Michael Timm

"O Brasil", diz Michael Timm, "tem economia muito fechada, para todos os produtos. Falta incentivo para as exportações e até para as importações. Falta mais abertura comercial para o País. A Colômbia, que é produtora de café, compra o grão do Brasil e industrializa, reexportando o produto para o exterior".

O presidente da Associação Comercial de Santos lembra ainda que o custo Brasil é elevado, onerando não apenas os produtos para o mercado interno, mas também para o internacional.

Timm, ao falar sobre o mercado alemão de café, citou que a Alemanha importa cerca de 22 milhões de sacas de café por ano, reservando em torno de 9,5 milhões para consumo interno e 12,5 milhões para reexportação, principalmente a nações da Europa.

Os portos alemães de Hamburgo e Brêmen também atuam como porta de entrada de café em sacas para outros países da Europa - por eles passam cerca de 3,4 milhões de sacas de café verde por ano, conforme dados do presidente da ACS, que citou a Polônia, com 1,6 milhão, como o principal destino.

Os alemães também gostam muito de café descafeinado, pois 2,7 milhões das sacas importadas são destinadas para este mercado.

O café solúvel é bastante consumido na Alemanha, com 3 milhões de sacas em 2012, inclusive para reexportação, para o Reino Unido, Polônia e Ucrânia, por exemplo, de acordo com Timm.

As duas grandes torrefadoras de café na Alemanha são a Tchibo e a Kraft, que respondem por aproximadamente 45% do mercado. Outro player importante é a Melitta, que está presente no Brasil, com o café e com o filtro de papel.

Guilherme Braga

O diretor geral do Cecafé, Guilherme Braga, enfatiza a importância da Alemanha como parceiro comercial do Brasil, inclusive no que diz respeito ao café. "A Alemanha é um dos grandes consumidores de café, com 10 milhões de sacas, além de ser o maior exportador mundial de café industrializado".

Braga alertou que fatores que agregam valor ao café estão relacionados à logística de comercialização e distribuição do produto. O diretor geral do Cecafé recordou que o Estado de São Paulo é hoje o terceiro maior produtor de café, atrás de Minas Gerais e do Espírito Santo, mas industrializa 50% do consumo nacional.

"Do café processado na Alemanha, cerca de 95% são vendidos ao mercado europeu", em vista das facilidades que o país oferece, tanto no aspecto geográfico, pois está próximo dos países compradores, quanto no que diz respeito ao marketing, porque os alemães têm marcas que são vendidas, por exemplo, na França e na Polônia.

"Na Europa", disse o diretor do Cecafé, "o grande canal de vendas de café é o supermercado, assim como no Brasil, o que requer uma série de condições para dar conta das necessidadesa do mercado".

No supermercado, não há condições para armazenar grandes quantidades de cafés em pacotes. As compras dos supermercados não são em grande volume. Além disso, há necessidade de repor os pacotes de café nas prateleiras de duas a três vezes por semana.

O diretor geral do Cecafé alertou que não basta querer vender o café brasileiro industrializado para a Europa. "Não funciona assim. Tem internacionalizar a marca. É preciso estar presente nos países consumidores. A Alemanha conseguiu mercado porque está presente na Europa".

Carlos Brando

O consultor Carlos Brando, da P&A Marketing Internacional, antes de abordar especificamente o mercado alemão de café, fez uma explanação sobre o consumo de café no âmbito mundial, porque a Alemanha acompanha as tendências internacionais. "Nos mercados consumidores tradicionais, o consumo vai para dentro de casa, como nos Estados Unidos, mas as lojas de café, as cafeterias, voltam a ganhar força, como na Europa e Japão. A monodose é uma tendência, há uma invasão das máquinas e cápsulas. Além disso, as marcas próprias se expandem no varejo".

Nos países produtores e emergentes, de acordo com Brando, surgem uma nova classe média e novos consumidores, aumenta a força do solúvel, as cafeterias impulsionam o consumo e na monodose a tendência é o café 3 em 1 - café, leite e açúcar em uma embalagem.

O consumo de café solúvel é outra tendência global, segundo Brando, em especial nos países produtores e nos mercados emergentes. "No solúvel, há praticidade e conveniência, além de atuar como porta de entrada nos países que tomam chá, bem como oferece preço atraente".

O consultor da P&A Marketing Internacional comenta que o café solúvel apresenta a vantagem de alcançar todos os segmentos de renda. "Entre os jovens asiáticos, o 3 em 1 é sucesso absoluto".

A monodose é outra grande tendência global no mercado cafeeiro, conforme observou Carlos Brando. "As cápsulas vieram para renovar mercados tradicionais, como Estados Unidos e Europa, mas o Brasil também é um polo dinâmico. A monodose estimula a demanda, devido a fatores como conveniência, escolha e rapidez - e o consumo cresce 20% ao ano desde 2004". Em síntese, as cápsulas e sachês de café são um grande mercado a ser explorado.

Outra grande tendência do mercado internacional de café são as lojas de café, segundo Carlos Brando. "As cafeterias se expandem rápido em novos mercados e abrem caminho para o consumo em casa. Na Índia, por exemplo, a Coffee Day tem 1.400 lojas em 200 cidades e atende 400 mil clientes por dia. A Coreia do Sul tem 12 mil cafeterias, a maioria servindo marcas locais. Nas Filipinas, há 200 lojas da Starbucks. E a América Latina moderniza e melhora o mercado cafeeiro, em especial com estações de café".

As marcas próprias de café são outra importante vertente, conforme o consultor da P&A Marketing Internacional. "As marcas próprias de café emergem com força na Europa devido à busca por opções mais baratas. As grandes redes varejistas também têm grande força neste segmento, em vista do apelo da marca e do preço baixo. Tesco, Carrefour, Aldi e Casino são grandes players".

O consumo global de café apresenta hoje uma nova dinâmica, de acordo com Carlos Brando. "A Ásia é o novo centro das atenções, em especial a China, a Índia, a Coreia do Sul, as Filipinas, a Indonésia e o Vietnã".

Brando citou os hábitos orientais, focados no consumo de chá, como um desafio a ser superado. Além disso, as novas gerações de consumidores tendem a preferir o café, pois o chá é visto como a bebida dos pais e avós. "As lojas de café são lançadoras de tendências".

Nesse contexto internacional, a Alemanha se consolida como a maior reexportadora de café no mundo, com um consumo interno de 8,6 milhões de sacas por ano, no período de 2000 a 2011, o que corresponde a 28% do total global, segundo observações de Carlos Brando. "Tanto que as importações alemãs de café aumentam - do Brasil, foi de 13% paa 27% e do Vietnã, de 3,7% para 18%".

Do café torrado pelos alemães, 17% vão para a Polônia, 14% para a França e 13% para a Holanda, conforme dados de Carlos Brando.

Quanto ao café torrado e descafeínado, 54% são reexportados pela Alemanha para os Estados Unidos, 12% para a Espanha e 7% para a Itália.

Dos extratos (líquidos) de café, os alemães reexportam 15% para o Reino Unido, 11% para a Polônia e 10% para Ucrânia.

Na Europa, os maiores compradores de café verde em grão são a Alemanha, a Itália, a Bélgica, a França e a Espanha, de acordo com dados do consultor da P&A Marketing Internacional.

Até 2008, os três maiores fornecedores do mercado europeu eram o Brasil, o Vietnã e a Colômbia. "Porém, em 2012, a Colômbia caiu drasticamente no fornecimento, mas o Brasil ainda manteve - e mantém - a liderança". Outros importantes exportadores de café para os europeus são a Indonésia, Honduras e Peru.

No tocante ao consumo de café na Alemanha, Carlos Brando constatou que o café torrado e moído tradicional ainda é importante no mercado, mas declina em volume. "O espresso e a monodose conquistam popularidade. Os consumidores estão migrando para máquinas de fazer café em casa e para o café fora de casa e também para o café torrado em grão, processado em máquinas de espresso. O café solúvel tem demanda estável, com apenas 4% do mercado".

O mercado interno alemão é altamente competitivo, segundo Carlos Brando. "A Mondelez, que fornece para McCafé e McDonal's, muito populares entre os jovens, é líder de mercado, com participação de 20%, mas sofre com a entrada de novos produtos. Outros grandes players são a Tchibo, a Melitta, a Dallmayr, da qual a Nestlé tem 25%, e a J.J. Darboven".

"Na Alemanha", continuou Brando, "se destaca a rede de supermercados Aldi, um dos maiores grupos na agregação de valor, com 9.800 unidades no mundo, e que compete com Tesco e Carrefour na Europa".

Na Alemanha, o consumo fora de casa é concentrado em padarias e cafeterias, de acordo com o consultor da P&A Marketing Internacional. "Crescem também as máquinas de vendas (vending machines), com 10% do mercado, além do consumo em postos de gasolina".

As novidades atraem cada vez mais consumidores no mercado alemão, conforme Carlos Brando. "Os cafés especiais e preparações à base de café já são 45% do consumo fora do lar".

Brando antecipa que, entre as perspectivas para o consumo de café na Alemanha, deve continuar a demanda por produtos práticos e fáceis de preparar. "Existe a necessidade de busca por conveniência e o alemão também quer aproveitar ao máximo o tempo livre".

 As porções para o café em monodose vieram para ficar, entende Carlos Brando. As opções são os sachês, as cápsulas, as máquinas domésticas, o café pronto para beber e o solúvel 2 em 1 - café e creme em uma embalagem".

"O café é a bebida mais consumida na Alemanha", afirmou Carlos Brando, desfazendo a ideia de que a cerveja estaria no topo. De acordo com dados de 2010, o consumo per capita foi de 150 litros de café, 131 litros de água e 107 litros de cerveja.

Eduardo Carvalhaes Junior

O presidente do Conselho de Câmaras Setoriais da Associação Comercial de Santos, Eduardo Carvalhaes Junior, também diretor do Escritório Carvalhaes, afirmou que "o Brasil tem que continuar a fazer história - e por isso deve superar o consumo dos Estados Unidos, tornando-se o maior consumidor mundial de café".

Carvalhaes lembrou que o café construiu o Brasil e alavancou a industrialização do Estado de São Paulo, em vista da importância econômica.

Os primeiros alemães a virem ao Brasil chegaram com Martim Afonso de Sousa, citou Carvalhaes. Em 1534, em Santos, foram lançadas as bases do Engenho do Trato ou do Senhor Governador. Mais tarde, a propriedade foi vendida ao alemão Erasmo Scheter, e passou a ser conhecida como Engenho de São Jorge dos Erasmos.

Carvalhaes informou que, na década de 1830, o alemão Theodor Wille fundou em Santos a Theodor Wille & Cia., conhecida por exportar a primeira saca de café da então Província de São Paulo para a Europa.

Uma presença mais recente da Alemanha no Brasil foi o estabelecimento da Melitta no País em 1968, para fabricar principalmente filtros de papel para café.

Em relação a produtos agrícolas - e não apenas no tocante ao café - o Brasil não sabe agregar valor, observou Carvalhaes. "Falta cultura de como agregar valor. Além disso, o Ministério das Relações Exteriores, por exemplo, tem que olhar o assunto com muito mais atenção".

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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