22 de junho de 2012

Um passeio a Los Cabos

Paulo Rabello de Castro - Presidente do conselho de economia da Fecomercio e do Lide Economia

A reunião dos chefes de Estado do G20 no resort de praia de Los Cabos, no México, não trouxe qualquer contribuição objetiva à excruciante situação dos mercados, em sua continuada crise de confiança sobre a capacidade de pagamento dos países, daqueles que antes chamávamos de avançados.

Hoje, as finanças do mundo desenvolvido estão em processo avançado, sim, de deterioração. O comunicado final do G-20 pode ser considerado lamentável, talvez uma prévia e apronto do que será também o comunicado da Rio+20. Esperemos que não.

Governos politicamente enfraquecidos, ou às vésperas de um teste eleitoral, como é o caso de Barack Obama nos Estados Unidos, não têm a mínima chance de articular saídas criativas num momento tão excepcional e difícil como vive o mundo atual.

Prova disso está em algumas notícias que passam despercebidas. No Senado americano, os representantes do povo deram mais um empurrão para o desequilíbrio fiscal americano ao se recusarem a enxugar meros em US$20 bilhões um programa que lhes custará perto de US$ 800 bilhões nos próximos dez anos.

É o programa de food stamps - um mega-auxílio alimentação - que se iniciou na recessão dos anos 70 e, desde então, só conseguiu alargar a base de cidadãos dependentes do benefício federal.

Os números do programa são um escândalo e uma denúncia sobre a dificuldade que será colocar em ordem as finanças públicas dos Estados Unidos. Em 2008, 28,2 milhões de americanos recebiam o auxílio.

Em 2011, os beneficiários somavam 44,7 milhões, custando cerca de US$78 bilhões anuais. Quando começou, o programa foi desenhado para ajudar os mais pobres, cerca de 1 em cada 50 habitantes.

Hoje, são 1 em 7, e não há Cristo que consiga mais passar uma legislação que segure e racionalize o espalhamento desse direito na empobrecida classe média. O programa virou uma espécie de rebate de imposto de renda, perdendo o estigma de ser uma condição de pobreza.

Comento algo aparentemente casual, que acaba sendo uma ilustração do conjunto dos muros construídos pela política dita social no Ocidente, visando a estabilizar a opinião pública com morfina, para que a população se sinta compensada pelos outros desvios monumentais de recursos fiscais, estes muito mais volumosos, para o socorro dos rombos financeiros nas principais economias do G20.

No Comunicado de Los Cabos, os líderes falam de políticas de fomento como meio de o mundo sair da crise, aparentemente esquecidos de combinar, previamente, como farão a limpeza dos ativos podres nos balanços dos bancos e nos governos de seus países.

Uma ação financeira coordenada, em nível mundial, seria mais do que necessária neste momento, com os maiores detentores de reservas, como a China, diretamente envolvidos num Plano geral de resgate, que não existe, por enquanto.

Somente este tipo de compromisso global devolverá a confiança perdida dos mercados. Mas ficamos muito longe disso em Los Cabos. Na reunião do México, os chefes de Estado estavam mais para receber um food stamp.

Esta atitude destrói a última chance de um plano coordenado de limpeza fiscal e financeira. O cenário é de um desenlace tumultuado. Reiteramos o afirmado na semana anterior: estamos chegando perto da boca do vulcão.

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Paulo Rabello de Castro é Presidente do conselho de economia da Fecomercio e do Lide Economia

Fonte: Brasil Econômico - 22/6/2012

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