07 de dezembro de 2012

Um pacote que pode desatar um nó importante na logística

Ricardo Galuppo - Publisher do Brasil Econômico

Perto do que eram duas décadas atrás, os portos brasileiros, na comparação com os terminais internacionais, até que deram um salto razoável no que diz respeito à qualidade e à produtividade.

A ampliação do funcionamento dos terminais privados representou um avanço. Hoje, empresas como a Santos-Brasil, que opera no litoral de São Paulo, registram índices de produtividade no embarque e desembarque de contêineres equivalente aos dos portos mais eficientes do mundo.

O abrandamento de exigências trabalhistas que impunham a utilização na carga e descarga de navios muito mais pessoas do que o necessário também ajudou muito na administração dos terminais gerais, como o porto de Santos, do Rio de Janeiro e de Vitória.

A situação que vigorou até 1992 dava aos Sindicatos de Trabalhadores Portuários o poder de estabelecer quantos homens seriam necessários para carregar e descarregar um navio.

Isso, além de gerar uma série de privilégios, criava distorções risíveis. Nos anos 1990, numa história que se tornou clássica, houve uma greve num dos portos mais automatizados que o país tinha na época - o de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.

Ocorre que, durante a paralisação, os navios continuaram a atracar e ser descarregados e carregados normalmente - e mais: em muito menos tempo do que acontecia em período de normalidade. Percebeu-se, ali, que a mão de obra excessiva que os Sindicatos Portuários impunham não apenas encarecia a operação como atrasava o serviço.

O investimento em obras como a dragagem do fundo de algumas baías, embora não tenha acontecido na velocidade necessária que em muitos casos permitiu a operação de navios de maior calado, também significou um avanço. Tudo isso junto permitiu que os portos brasileiros, nesse período, saíssem da idade da pedra lascada e, em termos de produtividade, alcançassem a idade do bronze.

Ou seja: ainda há muito que evoluir. Nesse sentido, qualquer esforço para resolver os problemas que impedem a melhoria dos índices de produtividade - como o pacote de investimentos de R$ 54 bilhões até 2017, anunciado ontem pela presidente Dilma Rousseff - deve ser aplaudido.

Os portos brasileiros têm problemas operacionais e de gestão graves. Ainda estão sujeitos a influências políticas que os tornam vulneráveis a transações suspeitas (como a recente Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, tem indicado).

Há muito o que investir na gestão dos portos e na criação de procedimentos que aumentem a eficiência, por exemplo, da Receita Federal no desembaraço das mercadorias.

Não é preciso, no entanto, ser especialista em logística para saber que o maior entrave a uma operação decente não está nos portos propriamente ditos. Ele está no sistema precário que dificulta que a carga, depois de desembarcada, chegue a seu destino final.

Os portos fazem parte de um sistema logístico que precisa ser visto em sua totalidade.

Ricardo Galuppo é publisher do Brasil Econômico

Fonte: Brasil Econômico / 7/12/2012

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