Guilherme Abdalla - Advogado, mestre em filosofia e teoria geral do direito pela Universidade de São Paulo (USP)
A internet é o novo tecido de nossas vidas. Segundo o sociólogo espanhol Manuel Castells, autor de obras fundamentais como Communication Power e A Galáxia da Internet, "se a tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a internet poderá ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão de sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da atividade humana".
Noutras palavras, a internet passou a ser um conjunto de nós conectados a desbancar estruturas verticalmente organizadas e hierarquias burocraticamente centralizadas: ela criou a rede.
Com fundamento em três elementos que marcaram o fim do século XX (as exigências da economia por flexibilidade administrativa e por globalização do capital, da produção e do comércio; os valores de liberdade e de expressão; e, por fim, os avanços da comunicação microeletrônica), uma nova armação social tomou contorno e já força até mesmo a reformulação de concepções problemáticas, como salário, rendimento e lucro, os quais, de acordo com Marx, são as três categorias principais de distribuição de renda que surgem a partir das relações capitalistas.
Com efeito, se a avaliação no mercado financeiro indica o resultado final do desempenho de determinada empresa, o trabalho continua sendo a fonte de produtividade, inovação e competitividade. Entretanto, o ressurgimento histórico da autonomia do trabalho, após a burocratização da era industrial, é evidente no desenvolvimento econômico.
Hoje, um computador, uma linha telefônica, um telefone móvel, um local em algum lugar, ou mesmo em casa, e o ativo principal, sua cabeça, são os reais meios de produção do empreendedor.
Assim, numa economia eletrônica, os profissionais devem ser capazes de se reprogramar em habilidades, conhecimento e pensamento segundo tarefas maleáveis num ambiente empresarial em evolução.
Ao adotar a internet como um meio fundamental de comunicação e processamento de informação, a companhia, individual ou coletiva, adota a rede como sua forma organizacional e estimula a reciclagem e o reaprendizado contínuos.
Ambientes rígidos e tradicionais tornam-se imediatamente obsoletos, ou seja, a flexibilidade torna-se um fator determinante na distribuição de renda.
O emprego tradicional como atividade única, em tempo integral, diário, ao longo do ano todo, na condição de empregado permanente, pago pela firma para a qual se trabalha, cede substancial espaço em todas as economias avançadas à autonomia, ao emprego em meio expediente, ao emprego temporário, à subcontratação e à consultoria. Essa é a tendência apontada em diversas pesquisas.
O verdadeiro talento é hoje aprender a aprender, esta é a chave da produção em negócios eletrônicos.
Do redemoinho das empresas ponto.com resultou uma nova paisagem socioeconômica que afeta, em sua totalidade, todos os processos de criação, de troca e de distribuição de valor. A vida não anula ciclos comerciais, ela os transforma.
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Guilherme Abdalla é advogado, mestre em filosofia e teoria geral do direito pela Universidade de São Paulo (USP)