Cláudio Conz - Presidente da Anamaco
Com as notícias referentes aos encontros dos setores produtivos com o governo e com os resultados não tão promissores em relação ao crescimento do PIB, fica mais evidente que os diagnósticos estão sendo feitos com bastante precisão e com altos acertos.
Porém, as medidas necessárias estão levando muito tempo para serem implementadas, demonstrando o equívoco no tempo de execução. Os incentivos aos exportadores, por exemplo, vêm sendo dados em pílulas homeopáticas.
Algumas empresas brasileiras tinham há anos escritórios, depósitos de produtos, redes de distribuição em alguns países.
Foram tantos os desgastes, impostos embutidos nas exportações, dificuldades com o dólar, que as empresas desistiram e fecharam estes escritórios.
Por maiores que sejam as correções, elas não conseguirão fazer com que isto volte, pois todos sabemos que reconquistar um mercado que foi abandonado é muito mais difícil do que abri-lo. E, neste momento, o mercado externo não quer comprar.
Outro ponto é a abordagem do governo em relação aos Refis e parcelamentos que são de tempos em tempos oferecidos como uma oportunidade de se colocar os impostos em dia.
A medida é correta, pois basta olhar a teimosia dos nossos empresários de permanecerem com as portas abertas após todas as dificuldades. No entanto, esta é mais uma ação que tem seu tempo de aplicação totalmente equivocado. Espera-se uma crise se aprofundar para trazer esta alternativa.
Na crise, as empresas não têm nenhuma possibilidade de cumprir os acordos oferecidos. Agarram-se à possibilidade dada. No entanto, as estatísticas têm demonstrado que, logo em seguida, elas abandonam os programas por não conseguirem cumprir.
Estes programas de parcelamentos incentivados têm de ser oferecidos exatamente quando as empresas estão indo bem, pois é quando elas conseguem obter recursos de seus resultados para resolverem suas pendências com o Fisco.
Vejam bem que os programas não dão descontos sobre os valores devidos, ou seja, não há perda para o governo.
O que eles oferecem é uma taxa de juros e atualização dos impostos em condições um pouco superiores aos valores pagos pelo governo ao tomar empréstimos, e redução significativa das multas indecentes aplicadas, hoje de 150%, que deveriam merecer uma atenção especial dos governantes, pois foram estabelecidas numa época em que a inflação era de 40% ao mês, com o objetivo de desestimular o jogo financeiro e que não tem nenhum sentido no Brasil de hoje.
O correto deveria ser a correção dos valores, juros limitados pela constituição em 12% ao ano e multas punitivas de no máximo 20%.
Está faltando a sincronia da representação empresarial com a política, para que a aceleração das medidas possa ser eficiente e contribuir eficazmente com os desejos de crescimento do PIB.
Neste ano, o CDES está muito focado na RIO+20 evento no qual o Brasil terá preponderante participação. Pretendo propor a retomada dos temas propostos no relatório das iniquidades publicado pelo conselho.
Lá constam contribuições extraordinárias onde o timing poderá fazer a diferença entre os objetivos que queremos alcançar e os que efetivamente vamos conseguir.
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Cláudio Conz é presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção - Anamaco
Fonte: Brasil Econômico - 28/3/2012