13 de julho de 2012

Tensão comercial entre Brasil e Argentina dá sinais de trégua

# Carros, alimentos e calçados já cruzam fronteira e governo vê compromisso de regularidade

Gabriela Borges -  especial para o iG, de Buenos Aires

A tensão comercial entre Brasil e Argentina dá sinais de melhoras. Após as reuniões entre as secretárias de Comércio Exterior do Brasil, Tatiana Prazeres, e da Argentina, Beatriz Paglier, durante a última cúpula do Mercosul, na cidade de Mendoza, na semana passada, muitos produtos voltaram a ter licenças de importação autorizadas, como carros e alimentos do lado argentino, além de carne suína e calçados do lado brasileiro.

No caso da carne de porco, após quase quatro meses de negociações, o governo Kirchner autorizou a entrada, no segundo semestre, de 27 mil toneladas de carne suína in natura, industrializada e miudezas – volume similar ao importado no mesmo período do ano passado. Era um dos setores que mais preocupava o Brasil. Em 2011, foram exportadas 130 mil toneladas e a expectativa do governo brasileiro é de que se mantenha uma regularidade mensal de pedidos e que o saldo deste ano seja de 80 mil. “É essa regularidade que assegura os laços comerciais”, diz Enio Cordeiro, embaixador do Brasil na Argentina, em entrevista exclusiva ao iG.

Cordeiro acredita que os dois países têm demonstrado vontade política de resolver os problemas. As reuniões em Mendoza resultaram em um compromisso de que o fluxo de autorização de licenças não automáticas será regularizado em poucos dias e será mantido um prazo de 15 dias para a liberação dos pedidos futuros. Mas muitos exportadores ainda dependem de desembaraços aduaneiros e aprovação de documentos que liberam a circulação interna, sobre tudo em produtos alimentícios.

É o caso das maçãs e das peras argentinas, que durante dois meses tiveram suas licenças automáticas suspendidas, além de um bloqueio fitossanitário devido à suposta presença de Cydia pomonella. Essa vespa, transmissora de um vírus que pode afetar as plantações do país importador, foi encontrada em alguns lotes enviados ao Brasil. Nesse caso, as licenças voltaram a ser autorizadas, mas as frutas ainda deverão passar por uma inspeção nas fronteiras.

A paralisação nas vendas ao Brasil, que começou em abril, chegou a gerar perdas de 13 milhões de dólares, além de causar desempregos e pânico entre os produtores de Alto Valle, na Patagônia Argentina. Segundo a Câmara Argentina de Fruticultores Integrados, no primeiro dia de liberação entraram 120 toneladas de maçãs e peras no Brasil.

As empresas brasileiras estabelecidas na Argentina também enfrentaram dificuldades nos últimos meses. No setor calçadista, por exemplo, o Brasil tem um acordo de exportação de até 15 milhões de pares por ano, segundo a Embaixada em Buenos Aires, número limitado que levou algumas empresas a se estabelecerem no país vizinho. No entanto, até elas tiveram problemas para importar e sofreram com a baixa na demanda, como aconteceu com a Alpargatas. Fabricante de calçados e produtos têxteis, a empresa decidiu reduzir a produção e adiantou uma semana de férias em julho para cerca de três mil funcionários.

No entanto, para o embaixador, a relação política entre os dois países não foi contaminada. “Houve uma introdução de medidas dos dois lados que tiveram um efeito sobre o fluxo comercial”, diz em relação à queda de 32% na balança comercial em junho, em relação ao mesmo período de 2011. Mas ele acredita que essa tendência deverá ser revertida já no próximo mês com a liberação mais fluida das licenças.

Por outro lado, Cordeiro avalia a queda total do semestre, de 12%, como uma situação “não tão dramática” em um cenário de desaceleração na capacidade de produção industrial e de consumo nos dois países nos últimos meses. De janeiro a junho, as exportações do Brasil à Argentina caíram 16%, enquanto as vendas da Argentina ao Brasil diminuíram 8,6%. “De certa forma, essa situação foi pré-anunciada pelas autoridades argentinas. Um dos objetivos do país para esse ano era ter um superávit comercial mínimo de 10 milhões de dólares. Isso levou a um controle maior nas licenças de importação e também nas autorizações cambiárias de todo tipo”, lembra.

“Mas, segundo as estatísticas, o país deve fechar o mês de junho com superávit próximo a sete milhões e já é possível começar a ver que o objetivo não está distante”, diz. Outro fator positivo na relação entre os dois países seria o restabelecimento da regularidade da interlocução governamental, devido às mudanças no ministério de comercio interior argentino, que passou a ser comandado diretamente por Guillermo Moreno. A embaixada agora espera que representantes dos dois governos mantenham reuniões regulares para continuar discutindo os acordos comerciais nos próximos meses.

Fonte: iG - 13/7/2012

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