Anderson Rossi - Professor e pesquisador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral
A tecnologia, em estado bruto, não conduz necessariamente a um processo de inovação. Para que ela gere valor ou apresente resultados, seja à sociedade por meio de um serviço público diferenciado, seja à organização privada por meio do lançamento de um novo produto, é essencial que a tecnologia esteja fundamentada por modelos de gestão e de negócios que a suportem, tornando-a geradora de bens efetivos e perceptíveis à sociedade.
Caso contrário, a tecnologia é uma forma isolada, sem estrutura que lhe dê relevância.
No setor público, a tecnologia tem se tornado condutora de processos consistentes de inovação, percebidos pela população no dia-a-dia.
O sistema integrado de dados dos Departamentos de Trânsito estaduais, o uso da teleconferência para depoimentos de detentos ao judiciário, evitando deslocamentos e reduzindo custos, o voto eletrônico, os sistemas urbanos de segurança com câmeras e softwares de reconhecimento facial são exemplos, entre outros, de como a tecnologia, inserida em um modelo factível e inovador de gestão, pode oferecer resultados e melhores serviços à sociedade.
E uma vez que esses benefícios são constatados, há um ganho positivo imediato para a marca - no caso, a de governos e órgãos do serviço público. O cidadão ‘sente' o retorno de seu tributo.
Além da tecnologia como ‘ferramental' e de um modelo de gestão ou de negócios que a suporte, outro elo fundamental para um processo inovador bem-sucedido é o envolvimento do corpo de funcionários na sua execução e/ou condução. Sem o homem não há tecnologia possível - ele é sempre chamado a participar.
Neste contexto, a Fundação Dom Cabral tem promovido, nos últimos anos, treinamentos com servidores dos governos de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia com o intuito de aprofundar neles a percepção da tecnologia e inovação na gestão pública e, ainda, de como esses profissionais devem aproveitar o que elas têm a lhes oferecer. É imprescindível apresentá-los ao ‘novo'.
Motivá-los a usar com eficiência os ferramentais tecnológicos disponíveis e, a partir deles, gerar resultados à administração pública e ao cidadão. Desmistificar o ‘medo' da mudança que todo processo inovador traz embutido em si. Só assim se consegue o ‘corpo' que viabiliza o avanço - com entendimento.
Um caso interessante que abrange esses três eixos - a tecnologia, o modelo de gestão estratégico e o profissional que opera este conjunto - diz respeito ao uso das mídias sociais pela administração direta do Estado.
Na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), por exemplo, o monitoramento das mídias sociais permitiu identificar as reclamações dos usuários sobre a ausência de painéis que informassem o horário do próximo trem em uma determinada estação da capital paulista.
A companhia, de posse desses dados estratégicos, implantou o painel no local e, com isso, gerou a percepção de melhoria na prestação de serviços aos usuários.
Hoje, a perspectiva é de que a tecnologia tenha cada vez mais destaque na gestão pública. Se bem amarrada a um modelo estratégico, ela pode contribuir com melhores serviços e mais eficiência da máquina pública, reduzindo o déficit de imagem provocado por longas décadas de serviços precários oferecidos por nossos governos.
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Anderson Rossi é professor e pesquisador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral
Fonte: Brasil Econômico - 26/10/2011