Rodrigo Sias - Economista do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
William Petty foi o precursor da economia política clássica. Enquanto seus contemporâneos ainda pensavam que a riqueza de um país se media pela quantidade de ouro e prata nos cofres dos tesouros nacionais ou pelos superávits comerciais alcançados através do protecionismo alfandegário, Petty advogou que a riqueza das nações seria resultado direto da produtividade.
Em seu livro "Aritmética Política", de 1676, Petty mostra como a Inglaterra poderia ser mais poderosa que a França, se os ingleses fossem mais produtivos que os franceses. A maior produtividade compensaria a menor população, a menor área agrícola e a menor disponibilidade de recursos naturais, entre outros fatores.
Ao colocar o foco da economia politica clássica na produtividade, antecipando diversos conceitos como a divisão de trabalho e a contabilidade nacional, Petty deu um salto qualitativo e estabeleceu as bases para a disciplina, que posteriormente seria desenvolvida por Adam Smith, David Ricardo e os demais economistas clássicos.
Ainda hoje, o tema constitui-se como um campo privilegiado do estudo da economia. A Alemanha, entre todos os europeus, foi o que melhor entendeu o binômio "produtividade e riqueza".
Bem verdade, alguns fatores ajudam os alemães. Se por um lado a Alemanha sempre se sentiu "cercada" geopoliticamente, sua localização no centro da Europa dá acesso a diversos mercados a leste e a oeste.
Os diversos rios de ótima navegabilidade ajudam o país logisticamente, baixando os custos de transporte e ao norte, a costa alemã é propicia à construção de portos. E desde sempre, a presença de ferro no Vale do Ruhr desenvolveu o gosto alemão pela indústria metal-mecânica, uma das indústrias centrais no século XX.
Mas é a produtividade alemã a chave de sua riqueza. Misto de aspectos culturais, burocracia eficiente e alta qualificação, a produtividade germânica é espantosa e não encontra adversários no mundo. A disciplina alemã é conhecida mundialmente.
Os alemães não trabalham tanto em termos de homem/ hora quanto, por exemplo, os "recordistas" chineses - que chegam a 16 horas por dia - mas conseguem produzir tanto quanto apenas com suas seis horas diárias de trabalho.
Por conta de sua alta produtividade, a economia alemã pôde por alguns anos ser a "locomotiva" da União Europeia: exportava para os parceiros europeus, seus bancos emprestavam grandes somas para que estes consumissem produtos alemães e a "engrenagem da prosperidade" seguia rodando.
No entanto, o efeito no médio prazo do desequilíbrio entre as produtividades entre os demais países e a economia alemã não poderia durar para sempre.
Assim que o ciclo de expansão inédito da economia mundial terminou e levou com ele a grande liquidez financeira, os desequilíbrios europeus passaram a ser visíveis e impraticáveis, lançando a Europa na atual crise.
A única forma de curto prazo para o reequilíbrio europeu seria o abandono gradual do euro, seguido de depreciações das taxas de câmbio dos países menos produtivos.
Com isso, a Alemanha teria sua moeda valorizada vis-à-vis aos demais parceiros europeus, permitindo-os ganhar competitividade frente à economia alemã. Como abandonar o euro sem provocar uma depressão e uma débaclê bancária é a grande questão europeia.
-------------------------------------------------------------------------------
Rodrigo Sias é Economista do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Fonte: Brasil Econômico - 25/7/2012