Adolfo Menezes Melito - Presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da Fecomercio SP
Não pela gravidade da crise, que foi naturalmente objeto de soluções diferentes em várias partes do mundo. O mercado norte-americano, berço da crise, soube de maneira bastante competente, não só superar a quebradeira dos bancos, mas também resolver problemas de empresas não competitivas numa velocidade inimaginável - foi o caso da indústria automobilística, por exemplo.
Diga-se de passagem, tudo isto foi feito depois de oito anos de gastos exagerados durante o mandato do presidente Bush, que transformou superávits democráticos em déficits republicanos.
A gravidade que me refiro tem a ver com a visão retrógrada de governos em todas as partes do mundo, que de maneira oportunista colocaram a culpa da crise financeira, iniciada nos Estados Unidos, na falta de presença de governo e, a partir daí, passaram a justificar uma maior intervenção para controlar suas economias.
A crise econômica europeia foi, naturalmente, agravada pela crise financeira norte-americana, mas as raízes dos desequilíbrios europeus são outras. Além dos problemas de gestão de uma moeda única, são dois os motivos da crise europeia: o primeiro, a intervenção dos governos na proteção de seus mercados com subsídios, que não se sustentam numa economia aberta; o segundo - e o mais importante - foram exatamente os excessos dos governos, que viveram muito acima dos padrões permitidos pela dinâmica das suas respectivas economias.
Nessa categoria se destacam Portugal, Itália, Grécia e Espanha, mas outros países mais relevantes fazem parte do problema.
A grande preocupação é exatamente essa leitura equivocada de que mais presença de governo representa maior garantia para evitar crises futuras. No caso brasileiro, somos recordistas em impostos - o quarto do mundo - superado por três países escandinavos de inequívoca boa gestão dos benefícios socialistas. Não temos mais espaço para inovar nessa área.
Cada vez que o governo federal decide atuar num determinado segmento, cria novas estruturas. As estruturas já existentes - 35 ministérios e secretarias, segundo o Portal Brasil - não atuam de forma colaborativa, não têm planejamento integrado e lutam individualmente por mais recursos. Há inúmeras sobreposições e a capacidade de articulação do governo com essa miríade de estruturas fracionadas é inexistente.
Lembro, porque oportuno, que em diferentes ocasiões o Movimento Brasil Competitivo propôs consultoria de processos e sistemas de gestão através do então Instituto de Desenvolvimento Gerencial, do Professor Vicente Falconi - diga-se de passagem, paga pelo empresariado - para melhorar a eficiência administrativa e reduzir custos - como, por exemplo, eliminar o déficit do sistema previdenciário - causado por má gestão e fraudes. Nada disso foi feito. E os problemas das contas públicas continuam empurrando o governo a criar novos impostos.
Lamentavelmente, muito pouco tem sido feito pelos empresários reunidos em uma miríade de organizações, também pulverizadas, para negociar com o governo federal as mudanças. E o Movimento Brasil Competitivo, que deveria insistir na solução empresarial, passou a integrar o governo. Em vez de fazer parte da solução, optou em fazer parte do problema.
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Adolfo Menezes Melito é presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da Fecomercio SP
Fonte: Brasil Econômico - 28/1/2013