18 de outubro de 2011

Ouçam as vozes das ruas

Joaquim Castanheira - Diretor de Redação do Brasil Econômico

Os indignados tomaram conta das ruas de todo o mundo. O movimento, iniciado de forma tímida em Wall Street com uma dezena de manifestantes, espalhou-se por países de todos os continentes.

Não se trata de um movimento único e orgânico, preparado por entidades com capacidade de mobilização e objetivos comuns. As motivações são as mais variadas.

Em Tóquio, por exemplo, ainda sob a emoção do acidente em Fukushima no início do ano, protesta-se contra a energia nuclear. Na Espanha, o desemprego em massa é o alvo preferido. Nos Estados Unidos, as palavras de ordem tinham como alvo o capitalismo de uma forma geral.

É evidente que a presença de jovens se manifestando de forma pacífica e movidos por sentimentos nobres gera uma simpatia imediata.

Nesse sentido, lembram os eventos de maio de 1968, quando garotos universitários formavam barricadas e defendiam em passeatas conceitos difusos de liberdade, com deliciosas frases de efeito como "É proibido proibir" ou "Seja realista. Exija o impossível".

A questão é a seguinte: o que querem, afinal, esses jovens? Quais suas propostas? Até mesmo o nome do movimento original (Ocupe Wall Street) revela que os manifestantes sabem discernir o que não querem, mas não sabem definir o que querem.

Nesse caso, é bom lembrar a onda de protestos que, no início do ano, varreu o Oriente Médio. Convocados por intermédio das redes sociais, milhões de manifestantes saíram às ruas e praças exigindo o fim dos regimes ditatoriais que dominavam quase todos os países da região.

A começar pela Tunísia, os governos foram caindo um a um. A primavera democrática que parecia romper, porém, não aconteceu. Os manifestantes, assim como os indignados, não suportavam mais o cenário atual. Queriam apear os ditadores do poder, mas também não sabiam o que colocar em seu lugar.

Resultado: juntas provisórias assumiram os governos com agendas muito distantes dos anseios daqueles homens e mulheres que, na prática, os colocaram no poder. No Egito, por exemplo, os protestos já voltaram a acontecer.

A ausência de objetivos claros não deve incentivar os governos a tapar os ouvidos para as vozes que vêm das ruas. De uma maneira meio afoita e torta, elas expressam desejos latentes da população de vários países.

Em 1999, dezenas de milhares de pessoas reuniram-se em Seattle, nos EUA, para protestar contra o encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC). Não tinham pauta definida de propostas, mas derrubaram a chamada "Rodada do Milênio".

Parte das advertências daqueles manifestantes, como o descontrole no mercado financeiro e os riscos da globalização, se revelou dolorosamente correta em setembro de 2008, quando a quebra do Lehman Brothers lançou o mundo na crise que até hoje não foi debelada. Enfim, não deixem de ouvir as vozes das ruas.

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Joaquim Castanheira é Diretor de Redação do Brasil Econômico

Fonte: Brasil Econômico - 18/10/2011

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