Adolfo Menezes Melito - Presidente do conselho de criatividade e inovação da FecomercioSP
Às vésperas da Rio+20 o setor de turismo deixa à mostra uma fragilidade nacional e antecipa o que os nossos tão aguardados visitantes podem encontrar durante os grandes eventos esportivos que o país sediará nos próximos anos.
Delegações estrangeiras ecoaram o seu descontentamento com o preço dos hotéis no Rio de Janeiro, exageradamente acima dos níveis internacionais.
O governo interveio para consertar, mas o dano já estava feito: o número de visitantes será inferior ao esperado. Fica agora a torcida para que o conteúdo e os resultados dessa importante conferência internacional no Brasil superem esse incidente.
Com a expectativa da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, proliferam os debates sobre o grau de competitividade do turismo brasileiro.
O baixo desempenho neste quesito é fator determinante para que o mercado do turismo não deslanche no Brasil.
Aliado a isso, o apelo de produtos com preços altamente atrativos no exterior faz o brasileiro bater sucessivos recordes de gastos em viagens internacionais, levando, inclusive, o assunto a entrar definitivamente na agenda do presidente dos Estados Unidos.
Estaríamos sendo demasiadamente exigentes em criticar a postura oportunista do setor hoteleiro no Brasil? É preciso analisar alguns aspectos para responder a essa questão. O traço da personalidade do brasileiro revela uma cultura focada no curto prazo, sem preocupação com os efeitos futuros.
Estamos diante de um elemento crítico, relacionado à capacidade do país de inovar: o foco no curto prazo é totalmente incompatível com a cultura de inovação.
O segundo fator, igualmente devastador para a cultura de inovação, é a superficialidade. Com a multiplicação do conhecimento, caminhamos para a pulverização de especialidades.
Quanto mais especialistas conseguirmos desenvolver nas profissões do futuro, mais chances teremos de ser um grande protagonista da moderna economia, baseada em fatores intangíveis, gerados a partir da criatividade, do conhecimento e da inovação.
O terceiro fator está relacionado à falta de cultura de processos. Se analisarmos os procedimentos mais básicos e visíveis para o cidadão comum, como a obtenção de um documento, a busca de informações em uma central de atendimento, a solicitação de serviços de apoio ao consumidor, é perceptível o grau de segmentação e retrabalho que encontramos pelo caminho. Os custos associados a processos fragmentados são enormes.
A receita mágica para agir contra esses inimigos da inovação é começar de novo, reescrever as nossas organizações em uma folha em branco.
Podemos redesenhar os processos de negócios, dar mais atenção e capacitar melhor os nossos talentos, ampliar o escopo das suas atividades e responsabilidades, envolvê-los e comprometê-los com os objetivos de longo prazo e organizar a empresa com o mínimo de hierarquia e o máximo de cooperação e colaboração lateral.
A boa notícia é que o brasileiro é profundamente dedicado, crítico, colaborativo e desprendido nos relacionamentos. Se estimulado, doa mais de si para fazer parte do esforço de transformação.
Atribuir autonomia e definir diretrizes de longo prazo são bons antídotos para a cultura do imediatismo, da superficialidade e do excesso de subordinação que leva à fragmentação de processos e à baixa competitividade da nossa economia.
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Adolfo Menezes Melito é presidente do conselho de criatividade e inovação da FecomercioSP
Fonte: Brasil Econômico - 28/5/2012