Mara Sampaio - Psicóloga e especialista em cultura empreendedora
Uma vez, em um almoço com alguns jovens do Grupo de Líderes Empresariais (JLide), conversávamos sobre o que é importante para ser um empreendedor, quando um deles disse: "ele se define pelos clubes a que pertenceu na vida".
Para esse jovem, as agremiações das quais teve oportunidade de fazer parte influenciaram suas escolhas e trajetória empreendedora. Os clubes são espaços aos quais nos associamos de forma voluntária a outras pessoas com interesses semelhantes.
As relações que se estabelecem nesses espaços ficam num campo diferente de amizade e de parentesco. Nos clubes, escolhemos participar. Somos sócios, pagamos mensalidade e temos carteirinha de filiação. Pode-se entrar e sair quando quiser - o que acontece quando não mais se compartilha os mesmos gostos e interesses.
Os clubes ajudam na formação de nossa identidade, ao lado da família, da escola e do trabalho. São espaços democráticos e criativos para fazer escolhas e experimentar formas de agir em relação às pessoas e ao mundo. São associações em que as relações são igualitárias, independentemente de nome de família ou condição financeira.
O critério de socialização é o livre posicionamento frente ao tema que une os sócios. Também se pode pertencer a vários simultaneamente, diferentemente da família, à qual estamos vinculados pelo nascimento ou pela circunstância de um casamento.
Hoje em dia temos o fenômeno das comunidades virtuais que se assemelha a um clube: são espaços fechados de pessoas que se juntam por um mesmo motivo, seja qual for a condição geográfica.
O espaço físico perdeu sua importância no papel de ponte entre as pessoas que desejam se encontrar por um interesse semelhante, seja ele a realização de atividades esportivas, a troca de ideias ou o gosto musical. Os clubes ou as comunidades virtuais são alternativas atrativas para facilitar o acesso ao modo de vida que se deseja ter e às pessoas que já possuem esta forma de ser.
A visão de que uma pessoa se torna empreendedora pela oportunidade que encontra nos clubes a que pertence fortalece a ideia da importância cultural para o empreendedorismo.
O paulistano Eduardo Rosemberg, corintiano, é dono da Roxos e Doentes, uma cadeia de lojas de produtos dos clubes de futebol. Ele começou em 1999, com uma loja no centro de São Paulo destinada a atender torcedores com dificuldade de encontrar objetos de seus clubes do coração. Ou seja, transformou as afinidades entre torcedores de diversas equipes em oportunidade de negócios.
Com a internet, tem sido frequente sabermos de negócios bem sucedidos que começaram com a motivação de alguém em compartilhar gostos com outras pessoas. É o caso do Youtube. Seus criadores, Steve Chen e Chad Hurley queriam apenas criar uma ferramenta que permitisse dividir os vídeos pessoais com os amigos.
Descobriram que, ao redor do mundo, milhões de pessoas se uniam em torno desse gosto. Venderam a empresa para Google por US$ 1,6 bilhão em 2006. Não importa se você nasceu numa família rica ou pobre, num país desenvolvido ou não.
O fundamental para sua história será a escolha dos clubes que frequentará durante a vida. Neles você poderá encontrar pessoas que abrirão as portas e os braços para apoiar seus sonhos e projetos empreendedores.
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Mara Sampaio é psicóloga e especialista em cultura empreendedora
Fonte: Brasil Econômico - 4/7/2012