20 de junho de 2012

Os 60 anos do BNDES

Rodrigo Sias - Economista do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Em janeiro de 1949, em seu discurso inaugural de posse, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, prometia um grande programa de ajuda às nações subdesenvolvidas.

O famoso "ponto IV" do discurso tentava responder à queixa generalizada do descaso dos estadunidenses no tocante aos países pobres, face ao ativismo visto com o Plano Marshall em relação à Europa.

Em plena Guerra Fria, os americanos engajavam-se no que ficaria conhecido como a "política de contenção" da União Soviética. Basicamente, essa política reconhecia que a contenção do comunismo era um problema de defesa externa americana, enquanto que para os países subdesenvolvidos era um problema de desenvolvimento interno.

Países que experimentassem o progresso econômico dentro do sistema capitalista, não flertariam com a proposta do socialismo e não se tornariam ameaça para os Estados Unidos.

Com a aprovação do "Act for International Development" em junho de 1950, autorizava-se a formação de comissões mistas americanas com países dispostos a receber ajuda técnica e econômica. Em dezembro do mesmo ano, surgia a Comissão Mista Brasil- EUA, que representaria um salto qualitativo das relações entre os dois países em comparação com a Missão Cooke durante a 2ª guerra e a Missão Abbink de 1948.

Dos trabalhos da Comissão Mista resultou a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, o BNDE, há exatos 60 anos, em 20 de junho de 1952, no governo de Getúlio Vargas. Só mais tarde viria o "S", de Social, marcando mais uma nova etapa do banco público.

Inicialmente, o então BNDE administraria recursos oriundos do Ministério da Fazenda, e principalmente, o "Fundo de Reaparelhamento Econômico" criado com o propósito explícito de servir de contrapartida aos financiamentos externos aprovados pela comissão. Iniciaria assim a rica história do banco.

Em 60 anos de existência, o BNDES sempre participou como um dos protagonistas do esforço de desenvolvimento brasileiro. Herdou da Comissão Mista a metodologia sistemática de análise custo/benefício e cálculos de rentabilidade, que na época eram uma inovação.

Foi o principal implementador do "Plano de Metas" de JK, atuando em infraestrutura, energia e transporte, na década de 1950. Depois apoiou a indústria de base na década de 1960.

Nos anos 1970, ajudou a construir a indústria de bens de capital. Nos anos 1980, seu foco foi o apoio a projetos de energia e agricultura. Na década de 1990, estruturaria as privatizações e iniciaria o apoio às exportações.

Desde os anos 2000, o banco vem apoiando o aumento da competitividade com ênfase na inovação, além de se ater a preocupações sociais e ambientais. Hoje, o BNDES é um dos maiores bancos de fomento do mundo, com carteira de crédito comparável à do Banco Mundial. De 20% a 25% do investimento total feito no Brasil vem apoiado diretamente pelo banco.

O gigantismo do BNDES é resultado de sua transformação em instrumento de política anticíclica do governo para enfrentar a crise econômica iniciada em 2008. Sua decisiva atuação ajudou a manter o dinamismo da economia brasileira e a sua trajetória de crescimento. O BNDES se transformou com o Brasil. Que nos próximos 60 anos, sua contribuição possa continuar a ser decisiva para o país.

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Rodriso Sias é Economista do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Fonte: Brasil Econômico - 20/6/2012

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