Alessandro Saade - Professor da Business School São Paulo
Acho incrível como os empreendedores de todo o mundo possuem elevado senso de oportunidade e de urgência: percebem uma determinada necessidade, entendem poder atendê-la e aceleram na direção do mercado.
Assim surgiram muitas inovações, na maioria das vezes mais simples do que podemos imaginar. Aquela simplicidade que depois de vermos implementada por outra pessoa, pensamos "como foi que não vi isso antes?!"
Poucas pessoas sabem, mas o sistema de rodízio das churrascarias, hoje profundamente difundido e até exportado para outros mercados, nasceu da incompetência dos garçons da churrascaria do Sr. Albino Ongaratto, de entregarem o pedido certo na mesa certa.
Cansado disso, num determinado dia, ele simplesmente pediu: passem todos os espetos em todas as mesas. E assim começou o rodízio que hoje é tão comum.
Da mesma forma, o que fez o Mc Donald's crescer foi ter diminuído. Ao deixar de oferecer o serviço de drive in, quando ainda era uma simples lanchonete nos Estados Unidos, e de reduzir o menu para ter menos complexidade na gestão de estoque e ingredientes, acabou dando menos opção ao cliente, tornando o atendimento mais rápido e seus processos mais enxutos.
Daí a transformar esse atendimento em drive thru foi um pulo. Mas com certeza nada disso estava no projeto inicial. A ideia principal era mais focada em simplificação que em crescimento.
Mas nem tudo vem da dificuldade. O pioneirismo vem da forma simples e objetiva de enxergar as pessoas, as empresas, seus produtos e processos. Não parece natural anunciar uma empresa do seu bairro na caixa da pizza que você recebe em casa no domingo? Sem competição.
Só a sua marca e o cliente, na intimidade da casa dele. Da caixa de pizza para o saquinho do pão ou a sacola do jornal de domingo foi um pulo! E note que o fornecedor da sacola é um atravessador que agrega valor: não é dono da loja que anuncia nem da pizzaria que distribui. Agregar valor é o grande segredo!
Ainda falando sobre senso de oportunidade, muitas empresas estão se aproximando do mercado internacional, a partir da facilidade dos processos de importação e exportação.
O número de importadoras de bebidas e alimentos não para de crescer. O negócio de venda de cervejas importadas em quiosques em shopping centers já é relevante e continua a crescer em volume de vendas e número de players.
O segmento corporativo também está cheio de exemplos de empresas ajudando outras empresas a melhorarem seus resultados. Se o seu negócio é vender comida, ou roupa, não faz sentido fugir do foco e aprender pedagogia para capacitar seus funcionários; ou ainda desenvolver web e e-commerce para vender na internet.
Hoje muitas empresas cuidam da sua educação corporativa ou gerenciam sua plataforma de e-commerce para que cada empresa entenda cada vez mais dos seus produtos e serviços. Principalmente se sua empresa ainda é pequena, como 99% das empresas formalmente constituídas no Brasil.
Mas até que ponto podemos confrontar experiência versus conveniência? A tecnologia compensa a falta de interação pessoal? A falta de contato e de assessoria dentro da loja?
Também nos Estados Unidos encontramos a Zafu, uma loja on-line de roupa feminina que cria um avatar do cliente, simulando como a roupa adere ao seu corpo. E, como a cliente preenche um detalhado questionário no seu cadastro, até a oferta de acessórios é certeira, alinhada ao seu estilo.
O mercado está cheio de oportunidades disfarçadas. O importante é saber enxergá-las, ter discernimento para selecioná-las e coragem para implementá-las.
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Alessandro Saade é professor da Business School São Paulo
Fonte: Brasil Econômico - 5/3/2013