03 de maio de 2012

Onde a inovação ajuda a melhorar a sociedade

Luciano Martins Costa - Jornalista e escritor, é coordenador do curso Gestão de Mídias Digitais da GV-PEC

O fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, anuncia que vai colocar em prática uma ideia de sua namorada, estudante de medicina, e criar um aplicativo para redes sociais com o objetivo de localizar potenciais doadores para pacientes que precisam urgentemente de órgãos, sangue, medula e outras substâncias que podem ser fornecidas pelos corpos de pessoas saudáveis.

Nos Estados Unidos, como no Brasil, os sistemas oficiais de catalogação de doadores funcionam relativamente bem nos casos em que a intervenção médica pode ser planejada, mas não é incomum a perda de doações por falta de comunicação.

Em geral, o sistema que organiza os transplantes de medula óssea, por exemplo, consiste em um banco de dados onde são inseridos os nomes e características de pacientes e outro onde se registram os doadores.

Quando surge a necessidade do transplante e o paciente não tem um doador na família, o médico o inscreve no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea, que se conecta a outra rede, o Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea.

O projeto de Zuckerberger vai oferecer uma alternativa para o crônico déficit de doadores e potencializar a comunicação entre as duas pontas do problema. Além disso, tem o efeito colateral benéfico de estimular o espírito de voluntariado e produzir ou restaurar vínculos sociais onde eles estão desgastados.

Como se sabe, grande parte dos nossos problemas sociais se origina no individualismo que se manifesta em intolerância e na desvalorização da diversidade cultural.

Uma das características do nosso tempo é justamente a concentração de indivíduos em "tribos" urbanas - a urbe, neste caso, sendo a megametrópole virtual representada pela soma das comunidades digitais.

Esse traço da sociedade contemporânea representa um resquício do sistema de nichos sociais criado pela indústria cultural e sua sociedade de massas. Os nichos representam mercados específicos, que se pode prospectar com menos custo, de onde o estímulo à "tribalização", que teve seu auge na década de 1980.

A sociedade que se desenvolve com a universalização crescente do acesso à internet e ao protagonismo nas redes sociais digitais começa a quebrar essa lógica da divisão da sociedade em aldeias virtuais.

A não-comunicação entre indivíduos de aldeias distintas está sendo rompida pela interconexão das redes digitais, que revelam aspectos comuns a diversas "tribos" e tendem a estimular a criação ou restauração dos vínculos sociais.

Não se trata, obviamente, de um retorno às comunidades típicas dos tempos pré-capitalistas, mas de fenômeno inédito que une globalização, tribalização e interatividade.

Os críticos da tecnologia que produz as redes digitais costumam enxergar apenas as manifestações de intolerância, sexismo, xenofobia e outras expressões de incivilidade. Mas é no espírito inovador com foco em benefícios reais para a sociedade que se concentram as mudanças constantes no novo ambiente criado por essas tecnologias.

Costumamos nos assombrar com os valores estratosféricos pagos por aplicativos que fazem coisas que nos parecem simples, como permitir o compartilhamento de fotografias, vídeos e músicas.

O que nos escapa com frequência é a análise do outro valor dessas inovações: o que elas vendem, na verdade, é vínculo social.

----------------------------------------------------------

Luciano Martins Costa é Jornalista e escritor, é coordenador do curso de Gestão e Mídias Digitais da GV-PEC

Fonte: Brasil Econômico - 3/5/2012

Compartilhe

Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.