17 de setembro de 2012

“O sistema bancário é sólido e rentável, mas não é eficiente”

Jorge Félix, com Klinger Portela
Poder Econômico

O brasileiro está surdo de tanto ouvir especialistas afirmarem que os nossos bancos são mais fortes do que os de outros países que, em meio à crise mundial iniciada em 2007, assistiram a demolição de suas instituições. Mas se os bancos brasileiros são fortalezas, afinal, por que, nos últimos meses, há tantas notícias de bancos em dificuldades, envolvidos em fraudes e, como o Cruzeiro do Sul, quebrando mesmo. Poder Econômico fez esta pergunta a um dos maiores especialistas no tema, o economista Roberto Luís Troster. Nessa conversa, ele defende a solidez do sistema, divide a culpa pelo imbróglio em algumas instituições entre elas mesmas e a regulação do país. E prega uma reforma urgente para dar eficiência aos bancos brasileiros.

Poder Econômico – O sistema bancário brasileiro é sempre apontado como vigoroso e diferente de boa parte do mundo. Por que, então, tantas notícias de bancos em dificuldades?

Roberto Troster – O sistema bancário é sólido e rentável, mas não é eficiente, tem margens elevadas; é instável, a oferta de crédito oscila muito; falta-lhe transparência, o que dificulta um diagnóstico preciso; e apresenta uma série de distorções como o IOF, os pastinhas e os compulsórios. Os bancos apresentaram dificuldades em razão da ineficiência, da instabilidade e das distorções, que poderiam e deveriam ser corrigidas.

Poder Econômico – Por que os bancos não tiveram interesse em levar o Cruzeiro do Sul e o Prosper? Eram negócios tão ruins assim?

Roberto Troster – Só eles podem saber bem, mas o que vazou é que não queriam correr o risco de contingências adicionais na compra desses bancos.

Poder Econômico – A liquidação é sempre uma notícia ruim para a economia e para o sistema bancário. É uma questão de instituições ou do sistema?

Roberto Troster – As instituições têm parte da culpa, mas a maior parte cabe ao sistema. Urge uma reforma.

Poder Econômico – Se tivesse que apontar três medidas para destravar o crédito no Brasil, quais seriam?

Roberto Troster – a) a promoção de crédito responsável; b) a aplicação do artigo 10 da Lei 4595/64 que diz que o Banco Central é responsável pelo crédito em todas as suas formas; c) eliminação das distorções mais graves: IOF, compulsórios, ruídos e pastinhas.

Poder Econômico – Como analisa a empreitada do governo para reduzir os juros e a inadimplência?

Roberto Troster – Apesar dos esforços e anúncios, os resultados são pífios, a inadimplência continua alta, o crédito não está se expandindo e está se colocando recursos de contribuintes que não se endividaram nos bancos oficiais.

Fonte: iG - 16/9/2012

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