04 de fevereiro de 2013

O exemplo do México para o Brasil

Patrícia Stefani - Economista da Ideias Consultoria

Ao longo de 2012, conforme se esvaía o entusiasmo com a economia brasileira, o México ganhou cada vez mais espaço como a mais nova das velhas promessas no grupo dos mercados emergentes.

O novo presidente e então candidato, Peña Nieto, era visto até a metade do ano apenas como a melhor das piores opções. O ceticismo era plenamente justificável dado o que seu partido político, o PRI, representou para a história mexicana ao longo dos setenta anos em que governou o país, numa época marcada pela violência e repressão.

Por outro lado, o fraco desempenho da economia, que cresceu menos de 2% ao ano em média desde que o partido de oposição assumiu o poder em 2000, indicava que o PRI retornaria ao poder, como punição.

Peña Nieto passou sua campanha tentando convencer a todos de que ele representava uma nova face do velho PRI, cujo empenho estaria em implementar as reformas necessárias para superar os entraves ao crescimento do México, algo difícil de ser implementado dado o complicado arranjo institucional do país (qualquer mudança constitucional requer a aprovação de pelo menos dois terços do congresso).

Prometeu as reformas do setor de energia, a tributária e a flexibilização das leis trabalhistas, todas intimamente relacionadas, graças ao que representa o setor de energia para a receita do governo (em torno de um terço) e o poder dos sindicatos não só nesse setor, mas também atrás de todas as portas da economia mexicana.

Ao tomar posse, o novo presidente deu dois indicativos importantes sobre a concretude de suas pretensões. Em seu discurso, prometeu investir em educação e tornar o país competitivo através das reformas necessárias.

Apresentou também uma (curta) agenda das mesmas, cuja importância se dá muito mais pela forma do que pelo conteúdo, já que contou também com a assinatura dos líderes dos partidos de oposição, no documento que foi chamado de "Pacto pelo México".

Melhor ainda do que discursos e promessas foi a primeira ação concreta. No mesmo mês em que tomou posse, o Congresso aprovou, por maioria esmagadora, a reforma do sistema educacional mexicano.

Entre outras coisas, ela tira do poderoso sindicato da categoria o controle sobre a contratação e demissão dos professores e institui um sistema independente de avaliação dos professores, que agora poderão perder seus empregos caso não atinjam os critérios mínimos estipulados. Isso mostra o reconhecimento de que o aumento da produtividade e do potencial de crescimento futuro da economia mexicana está intimamente ligado à qualidade do capital humano disponível.

Embora seja muito cedo para saber o rumo que tomarão as demais reformas, o México passa uma mensagem importante para o Brasil. O país soube capitalizar o entusiasmo internacional com o potencial de sua economia e aproveitou o momento para pressionar a aprovação das reformas necessárias.

Além disso, o novo governo realiza um esforço que pode até não ser suficiente, mas que, seguramente, é necessário: cooptar o setor privado para investir nos setores estratégicos.

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Patrícia Stefani é Economista da Ideias Consultoria

Fonte: Brasil Econômico - 4/2/2013

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