05 de outubro de 2011

O dia dos 7 bilhões

Miguel Setas - Vice-presidente de distribuição e inovação da EDP no Brasil

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no final do presente mês seremos 7 bilhões de seres humanos a habitar o planeta. Este é mais um marco da inflação demográfica, que triplicou a população mundial desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Este bilhão de seres humanos, que agora é alcançado, levou apenas 12 anos para se formar. O primeiro bilhão de seres humanos foi alcançado em 1800 e levou mais de 200 mil anos.

As projeções demográficas, divulgadas por estudos da ONU para 2300, identificam três cenários. O cenário intermediário, e mais provável, prevê um aumento da população mundial até 9 bilhões em 2050, e uma estabilização deste valor até 2300.

Mas os cenários extremos variam, em 2300, entre um alarmante cenário alto de 36 bilhões de pessoas e um igualmente alarmante cenário baixo de 2 bilhões de seres humanos.

As projeções dependem fortemente da taxa de fertilidade e da longevidade em cada país. No Brasil, a taxa de fertilidade reduziu-se nos últimos 50 anos de 6,2 para 1,8, enquanto a esperança média de vida aumentou quase 20 anos no mesmo período.

As projeções demográficas da ONU para o Brasil apontam, assim, para uma evolução até 230 milhões de pessoas em 2050 e uma posterior redução da população, mas não passando abaixo dos 200 milhões de brasileiros até 2300.

O jornal The Economist chegou a especular recentemente que a diminuição da taxa de fertilidade abaixo dos níveis de reposição poderia conduzir à extinção de vários países até ao ano 5000. Curiosamente, a população brasileira seria, segundo aquele estudo do reputado jornal britânico, a última a ser extinta, dentre a amostra de países selecionados.

Estas projeções parecem muito simplistas, na medida em que se referem a um horizonte temporal longo, durante o qual muito pode acontecer ao futuro da humanidade.

O atual crescimento populacional volta a levantar o receio malthusiano (Thomas Malthus foi um economista inglês do século XIX), de que o crescimento desordenado da população provocará a falta de recursos alimentícios e gerará fome e miséria.

Hoje em dia existe cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo - o equivalente a uma Índia - que vive abaixo do limiar da pobreza, com menos de US$ 1,25 por dia. Em 40 anos devemos esperar mais duas Índias para alimentar.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a procura de alimentos deverá aumentar cerca de 70% até 2050 e os preços dos alimentos deverão sofrer com a inflação demográfica. O Brasil não deve ficar imune a esta crise alimentar, mas a sua posição geoestratégica como celeiro do mundo, poderá ser gradualmente reforçada.

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, reconhecendo que a atual demografia coloca uma pressão desmesurada sobre a terra, energia, alimentação e água, propôs uma agenda mundial para 7 bilhões.

Em resumo, à data de hoje não sabemos se somos uma espécie a caminho da extinção ou de um inferno demográfico, mas sabemos que as próximas décadas são determinantes para a perenidade da humanidade... Por agora, só nos resta dar as boas-vindas e acolher o sétimo bilionésimo habitante do planeta.

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Miguel Setas é vice-presidente de distribuição e inovação da EDP no Brasil

Fonte: Brasil Econômico - 5/10/2011

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