Luciano Martins Costa - coordenador do curso de Gestão de Mídias Digitais da GV-PEC
O noticiário sobre a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, marcada para os dias 20 a 22 de julho, pode passar a impressão de que os participantes vão encontrar um cenário de caos, pela grande quantidade de temas e interesses colocados na agenda.
Na verdade, esse tipo de confusão tem marcado todos os últimos encontros e cúpulas internacionais sobre a questão ambiental, basicamente por duas razões: em primeiro lugar, porque neste ponto das discussões há sempre uma profusão de autores de trabalhos científicos, teses acadêmicas e propostas de ação buscando espaço para divulgação de suas criações; em segundo lugar, os novos paradigmas também trazem novos conceitos que encontram nesses eventos seu ponto de maturação.
Assim, vemos proliferar manifestações sobre energia limpa, comunidades sustentáveis, projetos de veículos limpos, edifícios ecológicos, tecnologias de mensuração de carbono, manejo do lixo urbano, integração de cadeias de suprimento e muito mais, apenas para falar nas oportunidades de investimento privado.
A lista das propostas de políticas públicas tem outro tanto de alternativas, e para cada uma delas há uma enorme oferta de dados, análises, projetos, apresentações.
A dinâmica desse novo campo de conhecimento se desenvolve paralelamente aos sinais da urgência climática e suas consequências, como o risco das perdas na produção agrícola e o agravamento de problemas sociais em zonas de alta incidência de pobreza.
Interessante acompanhar esses movimentos. Embora seja humanamente impossível para uma só cabeça analisar todas as centenas de ideias, novidades, invenções e projetos disponíveis nas redes de criação colaborativa, a leitura dos resumos desses trabalhos pode dar uma noção de como a humanidade, ou a parte dela que se importa com o futuro da civilização, pode oferecer respostas consistentes quando a realidade exige ação.
Esse exercício de observação crítica também estimula reflexões interessantes sobre as características das utopias no mundo contemporâneo, que alguns pretendem "pós-moderno".
Uma dessas tipicidades se refere ao fato de que, paralelamente ao esforço para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e às iniciativas para reduzir as emissões dos gases nocivos, se desenvolve um complexo conjunto de métricas, processos, estratégias e modelos de negócio com potencial para arejar o próprio capitalismo.
Discute-se, por exemplo, iniciativas para processos de fusão e aquisição sustentável capazes de animar investidores atentos, ou sistemas de avaliação de risco que podem inspirar importantes inovações no setor de seguros.
Há muito se diz que os debates sobre o desafio ambiental extrapolam as questões das mudanças climáticas e das urgências sociais.
Também se constata que, muito além do risco, o que realmente move o capital - e com ele as mentes - é a possibilidade de criar novas formas de produzir riqueza, mesmo sob as restrições que marcam nosso tempo.
Inovação vinculada à sustentabilidade pode vir a ser o melhor dos mundos para quem busca a plena satisfação do investimento sem culpas.
Um sistema que não agrida o meio ambiente e contribua para melhorar a sociedade talvez venha a ser a mais completa tradução de utopia para o capitalismo que se possa imaginar.
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Luciano Martins Costa é jornalista e escritor é coordenador do curso de Gestão de Mídias Digitais da GV-PEC
Fonte: Brasil Econômico - 26/4/2012