Ricardo Galuppo - Publisher do Brasil Econômico
Desde o início dos anos 1990, quando o economista Pedro Malan negociou com os credores o acordo que pôs fim à novela da dívida externa (ainda no governo Collor de Mello), nunca mais o Brasil atrasou o pagamento de suas obrigações internacionais.
Pagou centavo por centavo do que devia e nunca mais teve dificuldades para conseguir novos empréstimos.
Hoje, a dívida interna brasileira é de pouco mais de R$ 2 trilhões e o país é credor em suas contas internacionais: tem a receber R$ 500 bilhões a mais do que deve. Todos os compromissos assumidos foram honrados mesmo nos períodos de imoralidade explícita nas taxas de juros, que chegaram a 40% ao ano.
Isso aconteceu durante os ataques especulativos que o Brasil sofreu nos anos 1990. A onda negativa passou, mas os ataques voltaram logo após a primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mais uma vez, o país resistiu e avançou. Bom pagador, não sofreu os impactos mais destrutivos da crise internacional de 2008 - e já era um lugar mais do que atrativo para os investidores internacionais muito antes de receber o "grau de investimento" das agências de classificação de risco.
Trata-se de uma espécie de diploma de bom pagador concedido pelas agências internacionais de classificação de risco. Ontem, uma dessas agências, a Standard & Poor's, anunciou a elevação da nota brasileira. De BBB- para BBB. Diante de um dado como esse, é muito difícil conter a vontade de cair na gargalhada.
Sim. O Brasil, um país com duas décadas de tradição de bom pagador, dono de reservas cambiais suficientes para pagar cada centavo de seus compromissos internacionais e procurado por investidores do mundo inteiro, tem uma classificação mais baixa do que a de alguns países que estão na iminência de um colapso.
A Itália, de onde os investidores querem distância, era classificada como A+ pela mesma Standard & Poor's até outro dia. Depois que a situação deplorável das finanças do país foi desnudada aos olhos do mundo, a agência reviu os números e retirou o positivo da classificação.
A Itália, com todo perigo que oferece, hoje é apenas A. A Espanha é AA-. A Irlanda, com um desempenho digno de segunda divisão, ainda ocupa na tabela do campeonato uma posição melhor do que a brasileira. É BBB+. Ou seja, está um ponto adiante do Brasil. E por aí vai.
Dados como esses expõem as agências de classificação de risco a uma posição idêntica àquela que era ocupada pelas firmas de auditoria depois que os créditos podres de alguns dos maiores bancos do mundo deixaram a economia mundial de pernas para o ar.
Com a credibilidade abaixo da linha d'água, a pergunta é: para que servem instituições que dão notas baixas a quem vai bem e joga confetes em países que vão de mal a pior? A resposta é óbvia: essas instituições estão à beira da inutilidade e os dados que produzem, aqui entre nós, são cada vez mais desprezíveis.
Elas trabalham com os olhos postos no passado, não no futuro. Isso mesmo: a baixa classificação dada ao Brasil leva em conta não o futuro, ou seja, a capacidade do país em honrar os compromissos financeiros que assumirá daqui por diante.
O que ela considera é o fato de mais de duas décadas atrás o país ter entrado em moratória por absoluta falta de dinheiro. Assim não dá.
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Ricardo Galuppo é Publisher do Brasil Econômico
Fonte: Brasil Econômico - 18/11/2011