Editorial
Importantes produtores de soja e milho, os municípios de Rio Verde, Jataí e Mineiros, no sudoeste goiano, dispararam o sinal de alerta quando, há alguns anos, usinas de açúcar e álcool do interior paulista começaram a se expandir em direção ao Centro-Oeste.
Com a disponibilidade de terras praticamente esgotada no estado de São Paulo, os usineiros saíram em busca de áreas maiores, encontrando nas terras goianas as condições ideais para a implantação de novos projetos.
Ocorre que os canaviais avançaram num espaço onde impera a soja em cultivo alternado com o milho, um dos mais bem sucedidos projetos desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O trabalho de pesquisa, reconhecido internacionalmente, acabou, décadas atrás, com o mito do Cerrado infértil.
A reação dos sojicultores junto com as administrações daqueles três municípios foi estabelecer limites para o plantio da cana. Em Jataí, por exemplo, o Plano Diretor Agrícola limita a 50 mil hectares a área a ser ocupada por canaviais.
É uma tentativa de evitar que se repita por lá o que aconteceu em terras paulistas, onde a expansão sem controle da cana resultou numa monocultura que eliminou vários outros cultivos e criatórios.
Isso sem falar no pesado passivo ambiental, representado pela destruição de matas nativas e a poluição atmosférica com as queimadas da palha.
A reação goiana, tímida, uma vez que restrita ao âmbito das administrações municipais, seria desnecessária, assim como a distorção paulista poderia ter sido minimizada, com iniciativas como o zoneamento agrícola, caso houvesse uma participação mais coordenada do governo federal na complexa questão agrária brasileira.
E um dos fatores impeditivos para isso pode estar na fragmentação das políticas relacionadas à agropecuária em quatro esferas decisórias, que são os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Desenvolvimento Agrário; da Pesca e Aquicultura; e do Meio Ambiente.
A viabilidade da unificação da maioria dessas políticas em uma única pasta é discutida nas páginas da edição desta segunda-feira do Brasil Econômico na terceira reportagem especial da série sobre o Agronegócio.
Fonte: Brasil Econômico - 21/3/2011