Luciano Martins Costa - Jornalista e escritor, é coordenador do curso Gestão de Mídias Digitais da GV-PEC
Ainda é comum encontrar no ambiente corporativo resistências ao movimento pela sustentabilidade como uma tendência real, não apenas como um fenômeno de moda.
Trata-se de uma reação natural do ambiente conservador das empresas aos impactos de uma novidade que tem grande potencial para alterar processos, mexer com situações consolidadas e exigir mudanças nas práticas de criação e gestão de conhecimento.
Mas o conjunto de transformações que vem sendo imposto à sociedade em geral, ao Estado e às empresas veio para ficar e tende a se impor definitivamente como novo paradigma.
Não há, na afirmação de que o ambiente corporativo tende a ser conservador, um juízo de valor absolutamente negativo. Trata-se de um valor subjetivo, uma vez que é da natureza dos negócios, de modo geral, buscar a consolidação. E esse processo se dá pela preservação do status quo.
Assim, ser conservador no ambiente de negócios, por mais que a empresa seja ou se considere inovadora, é o que se espera. Tanto que, de modo geral, as mudanças importantes acontecem por ruptura, não de maneira suave.
A resistência que ainda se observa em alguns setores pode ser comparada ao que ocorreu com o movimento pela qualidade, baseado nas metodologias implantadas pelos consultores William Edwards Deming e Joseph Moses Juran no esforço para a recuperação da economia japonesa do pós-guerra.
Habituadas a uma situação de conforto proporcionada pelos "trinta anos gloriosos", muitas empresas do Ocidente resistiram a adotar os novos processos que reduziam desperdícios e aumentavam a produtividade. Algumas delas só despertaram para a nova realidade quando a globalização cobrava seu preço em eficiência e competitividade.
Organizações que resistiram a essa mudança foram apanhadas pelas novas tecnologias de informação, pelo acelerado avanço dos sistemas de automação e pela chegada de concorrentes jamais imaginados.
Algumas delas tiveram que se reinventar para sobreviver, outras simplesmente desapareceram. Não porque fossem conservadoras, mas porque não entenderam onde e quando era preciso inovar.
Com o movimento pela sustentabilidade acontece um fenômeno parecido. Muitas empresas ainda compram projetos de fachada, capricham em planos de "marketing verde" e entendem que basta cumprir as normas para estar afinadas com os novos paradigmas.
Uma das maneiras de identificar tais empresas é observar como funciona seu Departamento de Risco Empresarial, ERM na sigla em inglês. Se os gerentes de risco trabalham exclusivamente com as crises previsíveis, vinculadas diretamente ao objeto do negócio, a empresa está imersa no que se chama ilusão do controle.
Uma característica do momento presente é a imprevisibilidade, elemento típico dos contextos complexos. Não há como cobrir tais contextos com métodos lineares de controle e monitoramento.
Como se trata de cenários em que a crise pode surgir de qualquer lado, uma das melhores defesas é a criação de times multidisciplinares de análise e prevenção. Esse é um dos passos essenciais para a gestão da sustentabilidade.
Mas esse times devem trabalhar além da rotina, porque até mesmo as vulnerabilidades nos processos produzem padrões e se adaptam aos controles comuns. Transparência e diversidade são palavras-chave.
-------------------------------------------------------------------------
Luciano Martins Costa é Jornalista e escritor, é coordenador do curso de gestão e mídias digitais da GV-PEC
Fonte: Brasil Econômico - 19/7/2012