Joaquim Castanheira - Diretor de redação do Brasil Econômico
A presidente Dilma Rousseff poderia aproveitar a reforma ministerial que está desenhando para mexer não só nos titulares das pastas, mas também nas políticas públicas sob responsabilidade desses ministérios - e isso poderia até fazer parte de suas resoluções de Ano-Novo.
Nenhuma delas é tão urgente e tão necessária como a da Educação.
A mudança no comando acontecerá nos próximos dias. O atual manda chuva, o ministro Fernando Haddad, se afastará para cuidar de sua campanha à Prefeitura de São Paulo.
Em seu lugar, assumirá Aloizio Mercadante, atual ministro da Ciência e Tecnologia.
Não é o caso de se falar novamente da importância da educação para o futuro do país, do papel que ela teve para o desenvolvimento da Coreia, de Taiwan, etc, etc, etc.
O fato novo talvez esteja retratado na reportagem "Para as empresas, educação já é um gargalo", publicada na edição de hoje do Brasil Econômico.
Nela, empresários revelam uma sutil mudança de visão a respeito do assunto. Os principais líderes empresariais colocavam a educação no topo da lista de prioridades para o desenvolvimento do país, classificada como um dos "grandes temas nacionais", aquela categoria de assunto de muita importância conceitual, mas pouca necessidade prática.
Mas agora a carência nesse campo tem atingido diretamente o dia a dia e os negócios dos empresários. A falta de mão de obra tornou-se, de fato, um gargalo para a expansão das companhias brasileiras.
Veja o que diz Wesley Batista, acionista da JBS Friboi, maior frigorífico do mundo: "Faltar mão de obra é fruto da demanda. O Brasil está crescendo e as empresas crescem. Esse problema começa na educação".
E completa, mostrando a urgência do assunto em relação a outras carências da economia brasileira: "Porque infraestrutura o dinheiro compra e é possível solucionar no curto prazo. Mas educação o dinheiro não compra do dia para a noite".
As profundas deficiências na educação brasileira também provocam impactos negativos nos custos das empresas, sobretudo aquelas que dependem de alta tecnologia.
A Embraer, por exemplo, mantém uma escola para formar sua própria mão de obra. A mudança na qualificação desse pessoal, segundo o presidente da empresa, Frederico Curado, é visível, depois de três anos nos bancos escolares corporativos.
Esses alunos, diz ele, conseguem "80% de aprovação em universidades públicas e 100% de aprovação no vestibular".
A boa notícia é que, ao sentir na pele a tragédia da educação brasileira, os empresários podem se tornar uma poderosa fonte de pressão para mudar esse estado de coisas.
Nem sempre eles têm sucesso - se fosse assim, a carga tributária no Brasil seria menor. Mas, no caso da educação, não faltará apoio da sociedade.
É algo como fazer abaixo-assinado a favor da energia elétrica: quem haverá de ser contra? Mas sem a ajuda do governo nada acontecerá nesse campo?
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Joaquim Castanheira é diretor de Redação do Brasil Econômico
Fonte: Brasil Econômico - 3/1/2012