15 de fevereiro de 2012

Macroeconomia financeira

Rogério Mori - Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV)

Os mercados financeiros sempre tiveram um papel fundamental nas economias ao redor do mundo.

Nesse contexto, desempenham um papel essencial ao canalizar os fundos disponíveis na economia para firmas que desejam realizar investimentos produtivos.

Ao mesmo tempo, permitem que as famílias realizem empréstimos para obter bens e serviços necessários. Os países podem obter recursos no exterior e estimular seu crescimento econômico.

O crescimento e a globalização dos mercados financeiros amplificaram o papel destes. Sua influência transcendeu o mero estímulo ao crescimento econômico e os mesmos passaram a influenciar de forma determinante o emprego e, até mesmo, a política.

Ao longo das últimas décadas se observou uma crescente liberalização no segmento financeiro em vários países, principalmente nos EUA e Europa, com a criação de mais inovações financeiras.

Essa transformação e ampliação do escopo de atuação dos mercados foi acompanhada por cada vez mais episódios de instabilidade financeira. Nos anos 1990, várias economias emergentes sofreram com as mudanças nos humores do mercado.

Na década passada, a abundância de liquidez nos EUA e em alguns países europeus levou a inúmeros agentes de mercado a praticarem excessos, com alavancagens exageradas e aplicações de elevado potencial de risco.

O resultado disso foi observado na crise de 2008 e na subsequente estagnação econômica dos EUA.

Na Europa, a situação chega a ser mais dramática: os excessos de gastos de diversos governos foram tolerados por vários anos por bancos que carregavam a dívida desses países.

A reversão do ciclo econômico e a crescente aversão ao risco têm diminuído o apetite por papéis desses países, que estão sendo forçados a fazer ajustes recessivos (cortes de gastos e aumentos de impostos) em um ambiente de desemprego alto e recessão.

Apesar dessa problemática, os economistas foram incapazes de antever essas crises. Apesar do todos os sinais, poucos foram os que de fato alertaram de forma consistente para os problemas latentes do exponencial crescimentos dos mercados financeiros e da crescente desregulação dos mesmos.

De fato, pode se dizer que essa incapacidade reside, em certo sentido, em como a ciência econômica aborda a questão dos mercados financeiros.

Sob essa ótica, qualquer livro-texto de macroeconomia orientado para a graduação em ciências econômicas ou para cursos de MBA não aborda de forma adequada o papel do sistema financeiro na economia.

Em outras palavras, no processo de formação do economista atual, a compreensão dos mercados e seu impacto sobre o sistema econômico é relegada a segundo plano.

Mesmo em nível de pós graduação, em obras de macroeconomia avançada, é raro encontrar uma análise adequada dos mercados e do seu papel na macroeconomia.

O resultado disso é que esse importante segmento da economia, onde decisões fundamentais são tomadas em questão de minutos (ou até segundos) ainda é pouco ou inadequadamente compreendido pelos economistas.

Nesse contexto, ganha força a agenda que integra macroeconomia e finanças, como uma forma de melhor compreender o mundo econômico em que vivemos.

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Rogerio Mori é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV)

Fonte: Brasil Econômico - 15/2/2012

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