12 de setembro de 2012

Limites da política monetária

Rogério Mori - Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP)

Desde julho de 2011, o Banco Central (BC) iniciou um processo de flexibilização da política monetária no Brasil. O BC surpreendeu a todos naquele momento, com um corte inesperado em um contexto de inflação ainda pressionada (apontando para cima do centro da meta) e atividade econômica ainda demonstrando alguma robustez.

Passados alguns meses, ficou claro que a aposta da autoridade monetária se mostrou correta: o ritmo da atividade econômica doméstica arrefeceu abruptamente e a inflação começou a dar sinais de convergência para o centro da meta.

As surpresas maiores ficaram para 2012. A economia passou a demonstrar uma crescente debilidade em termos de crescimento. Tudo indica que o PIB irá crescer cerca de 1,5% neste ano ante a 2011. Um resultado decepcionante em relação ao que era esperado.

Esse é um resultado paradoxal: o Brasil convive hoje com a menor taxa de juros desde a implementação do real e a resposta em termos de crescimento é pífia.

Some-se a isso o fato de que a taxa de desemprego encontra-se em patamar relativamente baixo e os salários têm sido reajustados pela inflação passada, sendo que uma parte tem registrado ganhos reais.

É evidente que é necessário considerar nesse processo as defasagens inerentes da política monetária. Essas defasagens existem desde a identificação da necessidade de um ajuste de curso, até os efeitos sobre a atividade econômica e inflação decorrentes da implementação de mudanças na taxa de juros.

No entanto, parece que a economia tinha uma velocidade de resposta maior nos ciclos anteriores de flexibilização da política monetária. Nesse contexto, adicione-se à surpresa da fraca atividade ao fato de que a política fiscal também tem sido expansionista nesse período, focando em estímulos pontuais à demanda agregada.

De qualquer forma, o cenário atual pode se complicar para o BC, pois a inflação começou a dar sinais de nova alta, associada às altas de preços de alimentos, que caso seja verdade, representa um choque adverso pontual na inflação, que tende a se dissipar no médio prazo sem maiores prejuízos para a convergência da inflação para o centro da meta mais adiante.

O problema maior reside no fato que alguns elementos da alta da inflação parecem apontar para componentes da demanda, o que, caso esse quadro seja confirmado, indica que a alta da inflação não é transitória. Isso significaria que o processo de flexibilização da política monetária pode ter chegado ao fim na última reunião do Copom.

A própria ata dessa reunião aponta para a parcimônia no processo de redução da taxa de juros.

Esse é um quadro complicado para o BC e para o governo, uma vez que a economia ainda dá mostras concretas de debilidade da atividade.

O ideal para o BC seria que a inflação continuasse sua trajetória de convergência para o centro da meta, de 4,5%, de maneira ininterrupta e que a economia começasse a dar sinais mais palpáveis de recuperação.

A maior dúvida neste momento é se haverá um novo corte de 0,25 p.p na Selic até o final do ano. Esse movimento estará claramente condicionado ao comportamento da atividade econômica e da inflação nos próximos meses.

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Rogério Mori é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP)

Fonte: Brasil Econômico - 12/9/2012

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