05 de março de 2012

Inovação em software: cultura e negócios

Rodrigo Carvalho - Coordenador do Núcleo de Economia Criativa da ESPM-RJ

É crescente o interesse por parte da sociedade brasileira para o tema da inovação, em particular dos formuladores de políticas e o setor empresarial, que hoje se juntam às esferas acadêmicas, que há algum tempo chamavam atenção para a importância do Brasil desenvolver um sistema nacional de inovação dinâmico, de modo a enfrentarmos os desafios do maior acirramento da competição global.

Embora seja senso comum que, de maneira geral, as nossas cadeias produtivas apresentam baixa capacidade de inovação, temos observado que alguns setores da nossa economia conseguem se mobilizar em torno da construção de vantagens competitivas centradas em processos, produtos e serviços inovadores. Mas por que alguns setores conseguem e outros não?

Bom, há diversos caminhos para responder essa pergunta. No entanto, sem dúvida, desde o trabalho seminal de Keith Pavitt (1984) sabemos que o processo de inovação apresenta distintos padrões setoriais, que variam de acordo com as características das cadeias produtivas.

Isto é, a indústria farmacêutica inova de maneira distinta da indústria têxtil. A primeira tem no conhecimento científico, e por isso o relacionamento próximo a centros de pesquisa e universidades, a base para o seu processo de inovação.

Já a segunda encontra na interação com outras cadeias produtivas, como o setor de máquinas e equipamentos, por exemplo, a fonte de recursos para inovar.

No nosso tempo, uma indústria despontou como agente de mudança e que trouxe profundos impactos sobre as demais cadeias produtivas: o software. Qual seria o padrão do processo de inovação em software?

Para as empresas de software inovarem é importante que envolvam os futuros clientes no desenvolvimento de suas soluções. Entender as necessidades e os problemas de determinadas cadeias produtivas, mas, sobretudo, os aspectos da cultura (olha a Apple!), é que faz a diferença.

Nesse sentido, fico feliz em ver que o sistema regional de inovação de Pernambuco, que tem nas múltiplas sobreposições das esferas acadêmicas, atores institucionais e o setor de software, um importante território produtivo de tecnologia do Brasil, se organizando para impulsionar a Economia Criativa. A iniciativa é liderada pelo Porto Digital, que anuncia o encontro entre cultura, negócios e tecnologia (a ordem dos fatores importa!). Fantástico.

Bons exemplos, a instituição já tem. Acompanho de perto a trajetória da empresa de softwares musicais Daccord Music Software.

Ganhadora de prêmios de inovação e empreendedorismo, a empresa tem se desenvolvido com maestria no competitivo mercado, sustentando o seu modelo de negócios a partir de recursos e conhecimentos específicos : um profundo know-how sobre tecnologias musicais e a cultura do usuário de música.

Outro exemplo é a empresa incubada no Porto Digital, Opará, que oferece soluções tecnológicas de gestão da produção e logística para fruticultura. Neste caso, o que me chamou atenção foi o fato da solução tecnológica da empresa ter sido desenvolvida exclusivamente a partir da constante interação e testes no campo, junto a produtores exportadores de frutas do Nordeste.

No fundo, a Opará fez exatamente o que se espera de empresas inovadoras em software: que entendam de cultura!

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Rodrigo Carvalho é coordenador do Núcleo de Economia Criativa da ESPM-RJ

Fonte: Brasil Econômico - 5/3/2012

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