03 de setembro de 2012

Indústria vai mudar patamar de crescimento

Indústria deve crescer 4% ao ano a partir de 2013, diz consultoria; desempenho deve ser melhor que o que antecedeu a crise de 2008

A indústria nacional inaugura um novo patamar de crescimento na próxima década. O desempenho será melhor do que a média vista nos dez anos pré-crise de 2008, mas inferior ao do ano que antecedeu a quebra do banco norte-americano Lehmann Brothers. Estudo produzido com exclusividade pela consultoria LCA a pedido da 'Agência Estado' projeta uma expansão média de 4% ao ano do Produto Interno Bruto (PIB) do setor no Brasil, no período de 2013 a 2022.

A indústria de transformação deve crescer menos do que a média, acompanhando o que já ocorre nas economias mais avançadas, com taxa de 3,1% ao ano. Caberá ao mercado interno, principalmente à produção de petróleo e gás no pré-sal, o impulso à indústria brasileira na década, passada a pior fase da turbulência que redesenhou o cenário competitivo em todo o mundo.

O crescimento médio de 4% ao ano da indústria brasileira na próxima década supera o da década que antecedeu a crise internacional, de 1998 a 2007, quando o setor expandiu a taxas médias anuais de 2,1%. A diferença da alta entre os dois períodos é de 1,9 ponto porcentual. Para a indústria de transformação, o intervalo é menor, de 1,1 ponto.

Comparado a 2010, contudo, o desempenho da indústria não é tão positivo. Naquele ano, o crescimento de 10,4% refletiu em parte a recuperação da queda de 5,6% do ano anterior. O crescimento de 2013 a 2022 deverá aproximar-se dos 4,1% de 2008 e ser inferior aos 5,3% de 2007, antes do mercado mundial ser surpreendido pela falência do Lehman Brothers. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"A indústria brasileira estava em um bom período, o que não acontecia desde o fim da década de 1970. Na década de 2000, até a crise internacional, vinha mostrando um fôlego de crescimento e retomada de investimentos", contextualizou o coordenador do grupo de Indústria do Instituto de Economia da UFRJ e assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), David Kupfer.

A partir de 2008, com o desaquecimento dos principais mercados, importantes países compradores dos bens brasileiros fecharam suas portas. Simultaneamente, produtores internacionais, principalmente os chineses, encontraram no Brasil uma oportunidade de escoar suas mercadorias, por um período, com vantagens cambiais.

A crise mundial afetou a indústria brasileira em três dimensões. Foi prejudicial aos exportadores de insumos básicos, sendo a cadeia de mineração e metalurgia o principal exemplo; aos que sofreram a competição direta dos importados; e aos afetados pelo desaquecimento da economia interna. São diagnósticos diferentes, cujas soluções exigem ações políticas diferentes e esforços do empresariado distintos, segundo Kupfer.

"Perdemos exportação de aço básico e isso terá que ser substituído por mercado interno, mas não de aço básico, e sim de aços mais elaborados. É uma mudança estratégica importante", disse o economista.

As turbulências externas só não comprometeram mais a capacidade de desenvolvimento da indústria brasileira, por conta das medidas de estímulo à economia implementadas pelo governo, de acordo com o economista da LCA Thovan Caetano. "O crescimento de 4% ao ano na média da próxima década não é espetacular. É um crescimento moderado. Mas, poderia ser pior, caso as medidas não tivessem sido tomadas", afirmou.

Atividades de uso intensivo de mão de obra, como a de calçados e a de vestuários, tendem a ter mais dificuldades de reestruturação após a crise, analisa o professor da Unicamp e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida. "Nenhum setor irá desaparecer. Mas alguns podem perder densidade e outros se transformar em meros montadores de peças. É possível que a indústria brasileira perca em qualidade, em valor agregado", disse Gomes.

Para o período de 2013 a 2022, a projeção é que o setor de infraestrutura irá liderar o crescimento industrial, revertendo o período em que prevaleceu o consumo das famílias. A expectativa da LCA é que, na média anual, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) avance 6,1%, enquanto o consumo das famílias deve crescer 4,6%.

Com mais obras estruturais, melhores condições de investimento, decorrentes das medidas do governo, e com os eventos esportivos e o pré-sal, serão mais favorecidas as indústrias extrativa mineral e de construção civil. A expansão estimada é de 6,6% e 3,9%, respectivamente.

Fonte: Estadão / 3/9/2012

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