“Eu costumava beber chá todos os dias, mas nesses dias, após chegada das cafeterias, estou indo a esses locais para tomar uma xicara de café”, disse o gerente de serviços de marcas de uma agência de publicidade de Mumbai, Jovinson Duarte, de 29 anos.
Duarte, que disse que a nova Starbucks deu a ele e seus amigos um lugar para se reunir e usar wi-fi grátis, faz parte de um crescente número de jovens indianos que estão cada vez mais bebendo café.
A crescente demanda de café da Índia está impulsionando as companhias internacionais, como a italiana Lavazza SpA, a suíça Nestlé, e a americana, Starbucks Corp., a abrir lojas na região que tradicionalmente é consumidora de chá, oferecendo crescimento quando os retornos estão mais difíceis de serem obtidos em mercados mais desenvolvidos.
O crescente consumo de café na Índia também deverá apoiar os preços mundiais do grão, com os analistas prevendo uma redução nas exportações de café do país à medida que a demanda doméstica aumenta.
Embora a Índia represente somente 1,4% da demanda global, o mercado de café nessa região deverá crescer quase 9%, para US$ 486,6 milhões nesse ano, de acordo com a firma de pesquisas de mercado, Euromonitor International. Isso se seguiria a um crescimento de quase 80% nos últimos cinco anos.
O consumo anual de café da Índia, de cerca de 85 gramas per capita, é pequeno comparado com os 4,1 quilos consumidos nos Estados Unidos, de acordo com a Organização Internacional de Café (OIC). Porém, em uma população de 1,2 bilhão de pessoas, é a crescente classe média de 300 a 400 milhões de pessoas que atrai as multinacionais.
“O tamanho da economia indiana e a taxa de crescimento do setor de café, combinados com o crescente poder de gastos e a mudança nas preferências dos consumidores apresentam uma tremenda oportunidade para nós”, disse a diretora executiva da Tata Starbucks Ltd., uma joint venture entre a rede americana e a Tata Global Beverages Ltd., da Índia, Avani Saglani Davda.
Davda disse que existe uma tendência na Índia de consumo fora de casa e uma mudança nas preferências dos consumidores, com o café mudando de uma bebida que era consumida principalmente no sul da Índia para uma que agora é consumida nacionalmente.
A Starbucks, como parte de sua venture com a Tata, abriu suas primeiras lojas na Índia em outubro e agora tem sete lojas em Mumbai e Nova Deli.
A Lavazza, que vende café com sua marca a outros varejistas, recentemente abriu uma cafeteria em Bangalore. O diretor da companhia para a região da Ásia e Pacifico, Attilio Capuano, disse que a abertura de lojas nas principais cidades da Índia é parte de uma estratégia para fortalecer sua marca no país.
“Os jovens estão indo a lugares como a Starbucks, porque querem um lugar da moda para socializar e pegar seus iPhone se conectar na wi-fi grátis, disse Roberio Oliveira Silva, presidente da OIC. “A cultura do café vem tomando a Índia e continuará por causa das rendas mais altas e maior urbanização”.
A demanda por café instantâneo também é crescente aqui. A Nestlé fez uma demonstração em fazendas do sul da Índia no ano passado para ajudar os produtores a melhorar a produtividade e ajudar a suprir a demanda por produtos instantâneos da companhia no país.
A grande população da Índia significa que mesmo um pequeno aumento no consumo de café por indivíduos pode afetar a oferta e a demanda global pelo produto. O status da Índia como quarto maior exportador do mundo de grãos robusta – após o Vietnã, Brasil e Indonésia – poderá ser mudado pela demanda doméstica.
“À medida que mais produção é consumida domesticamente, sobra menos para as exportações, dando suporte aos preços internacionais”, disse o analista do Rabobank, Keith Flury.
A Índia deverá produzir cerca de 315.500 toneladas de café durante 2012-13, de acordo com o Conselho de Café do país. Cerca de 70% da produção é de café robusta, cultivado principalmente nos estados do sul da Índia de Karnataka e Kerala. Os envios de café da Índia caíram em cerca de 9% no ano passado, para 310.021 toneladas.
O presidente do Índia Coffee Trust, Anil Bhandari, disse que o país poderá parar de exportar mais café nos próximos cinco a 10 anos, por causa do crescente uso doméstico. “O consumo de café na Índia começou em áreas produtoras de café, mas agora, as coisas estão mudando, à medida que mais cafés indianos são consumidos domesticamente”. Ele disse que a Índia também se tornará um importador de grãos arábica.
A probabilidade da maior produção suprir a crescente demanda doméstica e sustentar as exportações é improvável, disse o presidente da Associação de Exportadores de Café da Índia, Ramesh Rajah, citando os altos custos das plantações. Ele estimou que os custos para os produtores, incluindo fertilizantes, combustíveis e mão de obra, aumentaram cerca de 40% nos últimos dois anos. “Por duas décadas, o conselho quis aumentar a produção em áreas não tradicionais, mas não aumentou”, disse ele.
A reportagem é do The Wall Street Journal, traduzida e adaptada pelo CaféPoint.
Fonte: CaféPoint / 21/3/2013