Adolfo Menezes Melito - Presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da Fecomercio SP
Manter o foco no longo prazo é a melhor maneira de privilegiar a inovação. Em recente estudo acadêmico, ainda muito pouco divulgado, o professor Kevin Kaiser, do Insead, lançou o conceito do Blue-Line Management.
É preciso não confundir com a metodologia de planejamento estratégico desenvolvida pelos também professores do Insead W. Chan Kim e Renée Mauborgne, que há 7 anos revolucionou os modelos de planejamento com a Estratégia do Oceano Azul.
Propõe o professor Kevin Kaiser que existe uma diferença essencial entre expectativas de criação de valor e os métodos tradicionais de planejamento e execução de planos de negócios.
A grande maioria das empresas é orientada por indicadores chave de performance, os KPI's. Esses, ao focarem em ações subordinadas ou não ao curto e médio prazo, induzem a comportamentos antagônicos que, na maioria das vezes, ao invés de criar valor, os destroem.
O autor cita como exemplo processos de inovação em empresas: se o objetivo é o de criar valor no longo prazo, ao atribuir ao departamento de pesquisa e desenvolvimento uma métrica de conversão de ideias em produtos, a empresa está comprometendo a qualidade dos projetos e lançando produtos que não atendem ao objetivo de longo prazo.
Outro exemplo citado é o da Toyota: ao focar na liderança mundial, o que de fato foi conquistado pela empresa em 2008, a companhia não teve tempo de formar adequadamente seus quadros - mundialmente conhecidos pela alta qualificação e por processos harmoniosos de tomada de decisões rápidas - mais de um milhão de sugestões analisadas e implementadas, com grande eficiência, todo ano - a Toyotaesmoreceu na qualidade e teve o maior recall da indústria em 16 anos.
A boa notícia é a capacidade de recuperação da empresa que, após um ano difícil com a tragédia de um tsunami em 2011, voltou à liderança no ano passado.
Também como a Estratégia do Oceano Azul, que se contrapunha ao Oceano Vermelho de resultados negativos oriundos de falta de diferenciação e guerra de preços, Kevin Kaiser contrapõe a gestão Blue-Line à gestão Red-Line, esta última representada pela incorreta estipulação de medidores de performance, bem como pela falta de compreensão, pelo corpo executivo, dos impactos nefastos do não alinhamento àquela primeira.
Neste cenário, o conceito de excelência em talentos de qualidade e compreensão do longo prazo pela organização como um todo são peças fundamentais.
A reflexão sobre esse tema retoma a importância de manter o foco na inovação da gestão.
Os diferentes estudos e pesquisas nessa área comprovam que a inovação não prospera em ambientes onde os sistemas de gestão são defasados. E isso ocorre na grande maioria das empresas, não só no Brasil como no mundo.
Pesam, no caso brasileiro, as ineficiências de um mercado protegido, o negligenciamento dos talentos e as administrações fechadas. Prevalece a vontade ou a visão do administrador ou proprietário. Sobre o foco no longo prazo? Sabendo que o país nunca privilegiou essa visão, quais são os caminhos a seguir?
A melhor forma de enfrentar o problema é desenvolver lideranças, semear a ambição e instilar empresas que tenham como foco o mercado global, onde os conceitos de competitividade são praticados diariamente.
Adolfo Menezes Melito é presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da Fecomercio SP
Fonte: IG / 18/3/2013