Miguel Setas - Vice-presidente de Distribuição e Inovação da EDP no Brasil
No último artigo que assinei defendi que as chamadas tecnologias exponenciais (nanotecnologias, inteligência artificial, robótica, energias renováveis, ciências da informação, biotecnologias, etc.) deverão produzir, a prazo, uma “singularidade”, conduzindo a economia mundial para uma nova curva de crescimento acelerado.
Os sinais de que esta singularidade se vai desenhando aparecem diariamente. Nas últimas semanas foi a vez da robótica se destacar. Os construtores de automóveis Audi e Toyota apresentaram os seus protótipos de carros-robôs, na famosa Feira de Eletrônica de Consumo de Las Vegas, que se realizou este mês.
Muitos outros construtores estão na corrida.
Desde 2007, a própria Google testa na Califórnia o seu "Google Car" (plataforma Lexus). O passageiro só precisa de introduzir o destino e o carro dirige-se sozinho.
De acordo com as estimativas da Organização Mundial de Saúde, morrem todos os anos na estrada mais de 1,3 milhão de pessoas. A Google anunciou que o seu carro já rodou cerca de 500 mil quilômetros sem nunca se envolver em acidentes.
Este é apenas um sinal de que o mercado de robótica está em franco desenvolvimento. Apesar da crise mundial, segundo a International Federation of Robotics, o mercado cresceu cerca de 9% em 2012 e estima-se que em breve possa representar cerca de US$ 30 bilhões.
O Japão, a Coreia de Sul e a Alemanha continuam sendo os países com maior nível de automação, com mais de 250 robôs por cada 10 mil trabalhadores. O Brasil ocupava, em 2011, o 37.º lugar do ranking mundial de automação, com uma densidade inferior a 10 robôs por cada 10 mil trabalhadores, evidenciando margem para ganhos de competitividade na indústria nacional.
A automação é tão mais importante se consideramos a evolução dos custos relativos. Segundo a consultoria Gavekal, o preço médio de um robô industrial caiu 23% entre 2000 e 2010. Já os salários comparáveis tiverem agravamentos expressivos neste período.
Interessante tem sido também o progressivo avanço da robótica fora das linhas de montagem industriais. Hoje já existem "robôs-médicos", que "visitam" os pacientes no hospital transportando uma conexão vídeo com um médico humano. "Robôs-cirurgiões", como o "Da Vinci", com quatro braços robóticos, um para segurar uma câmera e os outros três para realizar intervenções de precisão.
Temos "robôs-chefs" no Japão, que já são capazes de cozinhar massa e servir comida, "robôs-músicos", violinistas e flautistas, ambos japoneses também. Um robô-jipe da Nasa que deve estar neste momento passeando em Marte e drones militares no ar fazendo vigilância e reconhecimento.
Um banco brasileiro já tem um pequeno "robô-concierge", interagindo com clientes numa agência modelo. Tantos outros exemplos poderiam ser dados.
Muitas são as questões que se vão colocar à Sociedade com a introdução progressiva de robôs para substituir atividades humanas. Desde logo o possível e polêmico desemprego causado pelos autômatos.
Algumas profissões serão seguramente afetadas, mas aquelas que envolverem criatividade e emoção, por agora, parecem estar a salvo. O físico Michio Kaku, autor de "A Física do Futuro", prevê que os robôs só se vão tornar tão inteligentes e conscientes como os humanos no final deste século. Até lá temos algum tempo para procurar novos empregos.
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Miguel Setas é vice-presidente de Distribuição e Inovação da EDP no Brasil
Fonte: Brasil Econômico - 23/1/2013