# Setor de aviação civil tenta enxugar gastos para retomar margens; no Brasil, oferta tem queda
Pedro Carvalho - iG São Paulo
A fusão entre American Airlines e US Airways , anunciada na semana passada, e a greve na Iberia, como reação ao corte de 3,8 mil vagas, são "duas faces do mesmo problema", diz Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), que reúne as maiores companhias do setor.
"A aviação, embora tenha números expressivos, tem margens (de lucros) muito pequenas. Quando tudo dá certo, essa margem é de 3% em média", afirma Sanovicz.
Nos últimos anos, empresas aéreas têm enfretado dificuldades em diversos países. Na maioria dos casos, o alto custo dos combustíveis e a crescente concorrência do setor – que achata o preço das passagens – têm sido as principais causas dos problemas de balanço.
"Nos EUA, a busca da solução tem sido apostar na consolidação", diz Sanovicz. A transação entre US Airways e American Airlines foi a quarta grande fusão na indústria aérea do país desde 2008, quando a Delta Air Lines comprou a Northwest. United e Continental se uniram em 2010, e a Southwest Airlines comprou a rival AirTran Holdings em 2011.
"Eles precisam ganhar escala, mas não têm para onde crescer, porque não têm milhões de potenciais novos passageiros, como aqui no Brasil, então as fusões acontecem", explica o especialista.
Os números da fusão da semana passada dão uma ideia do momento ruim da aviação. A operação criou a maior empresa do setor no mundo, com valor de mercado de US$ 11 bilhões. No mesmo dia, a Heinz, uma fábrica de ketchup, foi comprada por US$ 28 bilhões. A Apple, empresa mais cara do mundo, tem valor de mercado calculado em US$ 430 bilhões.
Na Europa, onde a crise econômica é mais aguda, a opção foi "cortar na carne", nas palavras de Sanovicz. A espanhola Iberia tem enfrentado seguidas greves de pilotos e funcionários. Além das demissões, também houve protestos contra a criação da Iberia Express, uma subsidiária de baixo custo da companhia .
No Brasil, as principais companhias tiveram prejuízos bilionários no ano passado. As perdas da Gol, somente nos primeiros nove meses, passaram de R$ 1 bilhão. A TAM, segundo o último balanço divulgado, teve prejuízo líquido de R$ 928 milhões somente no segundo trimestre. Juntas, elas respondem por 77% do mercado nacional.
No diagnóstico de Sanovicz, as principais razões para esses prejuízos são o aumento no preço dos combustíveis e taxas cobradas pelo governo, além dos problemas de infraestrutura. O querosene de aviação, que representa cerca de 40% das despesas das companhias, subiu 50% entre 2010 e 2012, segundo a Abear. A associação irá negociar esses custos em 2013.
Se na Europa houve demissões e, nos EUA, fusões, no Brasil as companhias buscaram reagir reduzindo a oferta de voos – embora também tenham ocorrido cortes. O número de assentos disponíveis caiu 7,19% nos últimos 12 meses, segundo a Abear.
"A realidade de custos elevados que a empresas têm enfrentado levou a prejuízos, e o ajuste que se faz é uma redução de oferta", diz Sanovicz. "Você diminui os voos menos rentáveis e se concentra nos mais rentáveis, melhora a taxa de ocupação e aumenta a rentabilidade", afirma.
Preços
Segundo Sanovicz, a redução no número de voos não significa que as passagens ficarão mais caras – normalmente, oferta menor significa preço maior, dada uma demanda constante. "Na última década, a relação entre preço e demanda se tornou 'elástica' e com fator de 1,4. Ou seja, se o preço sobe 10%, a demanda cai 14%", diz o especialista.
"Nas décadas de 1980 e 1990, essa relação era inelástica, com 0,7 de elasticidade – o preço subia 10% e a demanda caia só 7%. Isso significa que é bastante difícil fazer recomposição de preço atualmente", diz Sanovicz.
Para o especialista, essa mudança de comportamente tem a ver com o perfil dos novos usuários dos aeroportos. Na última década, a tarifa média foi de R$ 470 para R$ 276. Como resultado, o número de bilhetes vendidos saltou de 36 milhões para 100 milhões no País. "É um consumidor que paga um preço bem mais baixo, então tem menor poder aquisitivo", afirma.
Fonte: iG - 20/2/2013