Felipe Peroni (fperoni@brasileconomico.com.br)
# Segundo analista de mercados emergentes do banco suíço Julius Baer, há uma tendência nos países de gerenciar a flutuação nas moedas. Para ele, o resultado não é negativo.
A retomada da economia chinesa é um bom sinal para o setor exportador brasileiro. Um estudo realizado pelo banco suíço Julius Baer mostra que o comércio global de commodities continua centralizado na China, com a demanda declinante nas economias avançadas.
Para o especialista em mercados emergentes do banco, Stefan Hofer, o Brasil especializa-se como exportador de commodities para o país asiático, enquanto adquire seus bens de consumo.
Ele ressalta que isso não é necessariamente negativo, mas uma consequência da forte demanda doméstica do país. Ele reforça a expectativa positiva para o Brasil nos próximos anos, e avalia que a "flutuação suja" adotada por diversos países é preferível a medidas protecionistas.
- Com a crescente demanda da China por produtos básicos e sua exportação de bens industrializados, o Brasil corre o risco de se tornar um mero fornecedor de commodities ao país asiático?
O Brasil se beneficia de uma vasta economia doméstica e uma base industrial relativamente diversificada.
Não é justo dizer que o papel do país é limitado ao fornecimento de commodities apenas, ainda que seja verdadeiro que as commodities atraiam a atenção de investidores internacionais quando eles pensam em Brasil.
O comércio entre Brasil e China disparou nos últimos anos, estruturado principalmente com o Brasil fornecendo produtos básicos, e a China vendendo de volta bens de consumo. Mas essa avaliação ignora o enorme potencial da economia doméstica brasileira.
De acordo com a classificação do governo, o país mantém por vários anos mais de 50% da população como "classe média". Com os níveis de renda alcançados, isso abre a porta para uma variedade de bens de consumos e serviços que não existiam anos atrás.
Um bom exemplo é o setor de automóveis. As vendas dispararam (ainda que com algum apoio de incentivos do governo), seguindo a tendência de países como Coreia do Sul e Japão no passado. O cenário de longo prazo para a demanda doméstica do Brasil não deve ser subestimado.
- Com a crise na Europa e concorrência global, o Brasil tem visto uma queda em sua balança comercial. Há um problema de competitividade?
Primeiramente é necessário afirmar que o Brasil lidou extremamente bem com a crise financeira internacional e com a crise na Zona do Euro. O impacto direto das duas crises foi baixo, especialmente quando comparado a outras economias em desenvolvimento.
Em parte, isso se deveu à proatividade de entidades governamentais, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Brasil, que impulsionaram ocrédito às empresas nos períodos de contração financeira.
Com relação ao superávit comercial, é preciso reconhecer que desde 2009 as importações cresceram muito. Isso reflete o que está faltando em muitas economias maduras: forte demanda doméstica.
O Brasil registrou um forte crescimento na renda e emprego recorde. Mais do que olhar o superávit comercial isoladamente, a competitividade brasileira pode ser medida ao observar o ambiente de negócios.
O consenso geral é que ainda há o que melhorar, com mais flexibilidade no mercado de trabalho, redução de impostos e facilitar as operações de empresas. O nível de investimento também está relativamente baixo, por isso os planos ambiciosos do governo.
- No mercado cambial, você acredita que "flutuação suja" se tornou a nova regra? Isso pode impactar negativamente o comércio e o crescimento?
A flutuação suja se tornou cada vez mais popular, ainda que a maioria dos países do G10 (grupo das 10 economias mais avançadas) continue fiel ao regime de flutuação cambial livre.
Um exemplo em economias maduras, o novo governo japonês está realizando um esforço para rebaixar o iene, e impulsionar as exportações e a atividade econômica, seguindo o exemplo do Banco Nacional da Suíça.
Em geral, gerenciar a flutuação cambial gera ajustes mais graduais no câmbio, o que dá às empresas mais tempo para se ajustarem. Conter a volatilidade nas moedas é uma prioridade.
Se em vez de uma "gestão" do câmbio flutuante fossem adotadas barreiras comerciais ou outras formas de protecionismo, o impacto negativo no comércio seria maior, tudo mais constante.
Fonte: Brasil Econômico - 1.º/2/2013