13 de março de 2013

Executivos fazem carreira em uma empresa só

Chance de mudar de país e de área dentro do mesmo grupo e experiências são atrativos

O que Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, Rodrigo Kede, presidente da IBM Brasil, e Horacio Balseiro, presidente da BIC Brasil têm em comum? O longo tempo de casa ou mesmo a passagem por apenas uma empresa em toda sua carreira.

Esses executivos, que dedicam boa parte de suas vidas profissionais a uma mesma companhia são cada vez mais raros de encontrarmos no mercado de trabalho, mas nem por isso não têm ensinamentos a dar a essa nova geração de profissionais que busca experiência, ao invés de realização.

Balseiro, por exemplo, ingressou na BIC em 1991. Nascido no Uruguai e hoje com 43 anos, o executivo já ocupou as posições de auxiliar de contabilidade da BIC Uruguai, gerente de administração e finanças da BIC Uruguai, diretor geral BIC Chile, diretor geral do Cone Sul (Argentina, Chile, Uruguai), até chegar à presidência da BIC Brasil, em 2008. “Ficar por muitos anos em uma mesma empresa possibilita que você vivencie a cultura da empresa e aprofunde seu conhecimento do negócio”, destaca o profissional.

Mas ele faz uma ponderação. “Com a oportunidade de mudar de área dentro do mesmo grupo, mudar de país ou mesmo ser desafiado o tempo todo, decidir por ficar em uma mesma companhia por muitos anos será mais fácil”, diz. “Foi o que aconteceu comigo”, completa.

O caso do paulista Paulo Campaña Affonso, engenheiro civil formado em 1966 pela Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, no interior do estado, ficou 28 anos na mesma empresa - a única em que trabalhou em toda a sua carreira. A empresa, principal ferrovia do estado, mudou de nome, foi privatizada, comprada e vendida algumas vezes. Na maior parte do tempo em que esteve lá, era conhecida como Fepasa. Quando começou, era a “Paulista”.

Affonso, nascido em Bocaina, nunca foi funcionário público. Mas conseguiu aposentar-se antes dos 30 anos por acumular bônus e gratificações pelos serviços prestados. “Passei por vários setores e cargos na empresa, e me aposentei como superintendente da regional de Ribeirão Preto”, conta o engenheiro, que se casou dois anos depois de formado — portanto, um depois de ingressar na empresa — e hoje tem quatro filhos e seis netos.

Carlos Eduardo Altona, sócio da consultoria em recursos humano Exec, lembra que nem sempreo que mantém um profissional motivado é aplicado a outro profissional.

Para ele, as empresas precisam oferecer oportunidades —sejam elas de mudanças de área, expatriação e plano de carreira—, bem como criar condições para que seus talentos tenham um plano de desenvolvimento individual. “As empresas precisam padronizar algumas políticas, mas também entender as individualidades”, aponta o especialista.

Uma vez oferecida essas oportunidades, cabe ao executivo avaliar prós e contras de ficar muito tempo em uma mesma empresa.

Fatores sociais e históricos

Uma vez oferecida essas oportunidades, cabe ao executivo avaliar se está disposto a transpor barreiras que surgem no decorrer da vida profissional e se está preparado para crescer de posição na companhia.

“Sabemos que todos os executivos que iniciaram suas carreiras e chegaram a posições de liderança dentro de uma mesma empresa enfrentaram uma série de barreiras.

Por isso, jovens profissionais precisam persistir na dificuldade se quiserem chegar às mesmas posições”, diz Fernando Andraus, diretor da Page Executive, lembrando que o mais comum são esses profissionais procurarem recolocação no mercado de trabalho.

Para o sócio da Exec, apesar de todos os esforços despendidos pelas companhias em reter seus funcionários, é cada vez mais difícil encontrar profissionais que optam por ficar nas empresas para as quais trabalham quando recebem uma proposta. Ele lembra que a maioria dos profissionais tem uma vida bastante estressante, o que colabora para que se sinta desmotivado em um curto espaço de tempo.

“Atualmente, profissionais que ficam entre cinco e oito anos em uma mesma empresa são comparados aos profissionais seniores do passado, que ficavam mais de 20 anos em uma única companhia”, diz.

Além disso, alguns setores apresentam apagão de mão de obra especializado, como o de tecnologia da informação, o que contribui para o alto nível de rotatividade. “Nesses setores, o ciclo profissional é ainda mais curto: dois anos”, pondera Altona.

Fonte: IG / 13/3/2013


 

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