18 de julho de 2012

Emergentes em desaceleração

Rogério Mori - Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV)

Está cada vez mais evidente que a desaceleração do ritmo da atividade econômica que atingiu os países desenvolvidos há alguns anos está começando a se refletir sobre as nações emergentes.

Desde fins de 2008 os Estados Unidos, que representaram o principal motor da expansão econômica por boa parte da década passada, entrou em estado de estagnação econômica.

As ações do Fed, o banco central americano, apenas evitaram o colapso do sistema financeiro americano e global. No entanto, a economia não reage às baixas taxas de juros praticadas por lá ante o elevado endividamento das famílias.

Uma recessão mais pronunciada só foi evitada em face da política fiscal expansionista praticada pelo governo.

Na Europa, a situação também não inspira maior otimismo. Vários países do bloco seguem com elevado grau de endividamento público e com altas taxas de desemprego, sem perspectivas de retomada do crescimento econômico.

Com isso, a Europa segue em ritmo lento também. Essas duas regiões (EUA e Europa) somam praticamente metade do PIB do planeta e sua estagnação se reflete duramente sobre a economia mundial.

Em função desse quadro, a esperança de algum alento sobre a economia global recaiu sobre os emergentes, em particular sobre os BRICS. Nesse contexto, alguns desses países demonstraram alguma pujança mesmo com a desaceleração das economias desenvolvidas. O maior destaque nesse processo foi a China, que manteve elevados padrões de crescimento econômico nos últimos anos.

No entanto, o que temos observado ao longo do primeiro semestre de 2012 é que mesmo essas economias parecem estar entrando em uma trajetória de desaceleração do crescimento econômico.

No caso da economia chinesa, temos assistido a sucessivas revisões para baixo das projeções de crescimento econômico para esse ano. Está evidente nesse processo, que a economia da China começou a desacelerar também.

Fenômeno similar está ocorrendo na economia brasileira e as projeções de crescimento para este ano, que chegaram a ser superiores a 3%, já começaram a se situar na casa dos 2% e já existem projeções que apontam para números inferiores a esse.

Especificamente no caso brasileiro, o governo parece tentar recorrentemente reeditar a fórmula de sucesso que tirou o Brasil da recessão nos primeiros meses de 2009, com uma combinação de incentivos à tomada de crédito e reduções de impostos pontuais em setores considerados chave.

No entanto, o ambiente atual é significativamente diferente do verificado naquele período. Boa parte das famílias brasileiras já se encontram bem mais endividadas neste momento e com grande parcela de sua renda comprometida, sem grandes espaços para novos arroubos de consumo.

Também existem sinais de desaceleração econômica em outros emergentes neste momento. Nesse contexto, a esperança de que esses países representariam um sinal de reversão do quadro de estagnação econômica global se esvai ao longo deste ano.

Em outras palavras, ainda não existem sinais concretos de que a "Grande Recessão" esteja se encerrando em breve.

Rogério Mori é Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV)

Fonte: Brasil Econômico /  18/07/2012

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