31 de julho de 2017

ECONOMIA: Interesse pelo Brasil é pequeno

Fonte: Valor Econômico 

Anda fraco o movimento de franquias nas fronteiras do Brasil. Poucas marcas saem em busca de negócios em outros países, especialmente na América Latina. E são ainda em menor número as interessadas em ingressar no maior mercado da região, com 207 milhões de habitantes.

Dois eventos recentes ajudam a tomar o pulso do setor. Quarto no ranking mundial dos países com maior número de redes, o Brasil sedia anualmente uma feira de franquias que rivaliza com a de Paris. São as maiores do mundo. No fim de junho, entre os 400 expositores da ABF Franchising Expo havia 22 marcas estrangeiras, de seis países. No início de julho, a 11ª Feira Internacional de Negócios e Franquias (Fanyf) - que ocupa a quarta posição entre eventos do gênero na América Latina -, reuniu em Bogotá 93 expositores, 40 deles vindos de 13 diferentes países.

"São momentos diferentes", diz Altino Cristofoletti Junior, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF). A Colômbia, pelas condições do país e do ambiente de negócios, é mais aberta à internacionalização, explica.

"Para vir ao Brasil a principal preocupação é o imbróglio tributário. Ninguém entende, nem a gente, como tem tanto imposto - municipal, estadual, federal, que se sobrepõem", diagnostica.

Pesa ainda a falta de conhecimento sobre o país: "A diversidade de Norte a Sul é complexa", diz o presidente da ABF. Legislação trabalhista e passivos também amedrontam potenciais investidores.

"Sentimos que o Brasil é um continente. Um país em que a abertura de um negócio pode levar entre oito meses e um ano, e há os gastos com licenças e documentos, burocráticos, que dificultam muito o ingresso de franquias", diz Luis Felipe Jaramillo Lema, presidente da multifranqueada LFM e diretor geral da feira colombiana. "O Brasil tem cerca de 3 mil franquias, creio que 94% são marcas brasileiras. A Colômbia tem 443 marcas e 44% estrangeiras."

Os que foram à feira vender suas marcas para os colombianos não mostravam interesse em fazer o mesmo com os brasileiros. "É um país burocrático, requer investimentos altos", diz Javier Pelayo, vice-presidente de negócios internacionais da Alma Beauty Corporation, que abriga entre suas 16 marcas, responsáveis por um faturamento anual de € 100 milhões, a rede de cabelereiros espanhola Marco Aldany

O país, pelo menos por enquanto, também está fora dos planos da recém-iniciada expansão internacional do grupo peruano Montalvo, do setor de beleza. "Por conta do idioma e da economia", diz o fundador do negócio, Victor Hugo Montalvo. O empresário prefere a Colômbia, o Panamá e Miami como futuros endereços para os salões de cabelereiros Montalvo Spa, que requerem investimento inicial de US$ 50 mil, e para o Men Barber, que demanda US$ 20 mil. Essas marcas garantem à rede faturamento anual de US$ 22 milhões.

Em processo de internacionalização desde 2011, a marca colombiana de café premium Juan Valdez deve fechar o ano com 414 lojas, 140 internacionais. Fincou bandeira em locais como Kuala Lampur e Barhein. No Brasil, chegou apenas às prateleiras de 108 supermercados do Grupo Pão de Açúcar (GPA). No curto prazo não há planos para abertura de lojas.

O que mais preocupa é a mão de obra. Os padrões de atendimento, um dos grandes diferenciais das lojas de café colombiano, podem ser difíceis de ser mantidos, segundo Herman Mendez, presidente da Procafecol, detentora da marca Juan Valdez que registrou em 2016 lucro operacional de US$ 85,5 milhões, 19% acima do ano anterior.

Os pacotes do café Juan Valdez nas prateleiras do GPA são um dos poucos resultados concretos do esforço da rede para alavancar a troca de marcas, produtos e serviços entre o Brasil e a Colômbia. O trabalho, realizado em parceria com o Grupo Êxito, está em curso há um ano e meio. A meta é alcançar maior sinergia comercial para as duas empresas que têm um único controlador, o francês Casino.

"É um trabalho de formiguinha", diz Paulo Pompilio, diretor de relações corporativas do GPA. Com apoio da ABF e da Apex, os representantes da companhia apresentam seu portfólio aos empreendedores colombianos e tentam romper barreiras iniciais, como a tributária, e a dificuldade trabalhista, diz. "É pegar pela mão e ajudar, senão ele não se encoraja a ir."

Luiz Henrique Costa, diretor executivo do GPA Malls, que responde pela área de desenvolvimento imobiliário e está à frente da operação das galerias, diz que "nunca houve ação estruturada de longo prazo de comércio exterior entre os dois países". Daí a dificuldade de fazer o projeto caminhar.

Os projetos com o Brasil estão andando, diz Juan Gabriel Pérez, diretor executivo do Invest in Bogotá. "Temos que mostrar a Colômbia como uma primeira porta e uma plataforma para chegar aos países da Aliança Pacífico."

 

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