Rogério Mori - Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas
As indicações mais recentes acerca da atividade econômica brasileira sinalizam para um desaquecimento na margem, sendo que alguns setores estão sendo mais afetados nesse processo que outros.
Nesse contexto, a indústria brasileira parece ser um dos segmentos da economia que está sendo mais duramente afetado. A produção industrial brasileira sazonalmente ajustada em setembro, segundo o IBGE, registrou queda de 2,0% em relação ao mês anterior e caiu 1,6% em relação ao mesmo período de 2010.
O resultado de setembro consolida um quadro de estagnação na indústria, uma vez que nos dois meses anteriores a produção industrial registrou variação praticamente nula. Os maiores recuos foram concentrados nos segmentos produtores de bens de capital e de bens duráveis.
A desaceleração percebida em alguns setores, no entanto, não é uniforme para o conjunto da economia brasileira. Nesse sentido, a taxa de desemprego permanece em patamar baixo e o ritmo dos aumentos salariais prossegue com reposição da inflação mais algum ganho real.
As vendas em determinados setores de não duráveis permanecem aquecidas. Ainda assim, o comércio começa a apostar em um Natal mais moderado.
A assimetria de desempenho dos setores da economia brasileira no momento é curiosa, pois, em certo sentido, remonta a uma problemática mais geral. Sob essa perspectiva, a desaceleração da atividade econômica global, sem dúvida, tem efeitos sobre a economia brasileira.
É de se esperar que o fraco desempenho do resto do mundo tenha desdobramentos sobre nossa economia. Ao mesmo tempo, a sobrevalorização do real afeta diretamente os setores produtores de bens comercializáveis com o exterior, em particular a indústria. Em função disso, esses setores tendem a sofrer mais que segmentos produtores de bens não comercializáveis com o exterior.
O governo tem se mostrado sensível a isso e atuado em diferentes flancos. O Banco Central iniciou um processo de flexibilização da política monetária, tendo cortado os juros e sinalizando para a manutenção da trajetória de queda da taxa Selic.
Esse movimento ocorre a despeito do patamar de inflação ainda se manter elevado.
Do ponto de vista da indústria, a redução da taxa de juros atua em duas direções. A primeira remete ao fato de que diminuições na taxa Selic afetam em alguma medida as taxas de juros na ponta do empréstimo.
A queda das taxas de juros para financiamento tendem a ter efeito positivo sobre o consumo. Ao mesmo tempo, a diminuição da taxa básica de juros reduz o diferencial de juros praticados domesticamente em relação ao resto do mundo.
Com isso, a atratividade relativa de aplicações em renda fixa tende a cair. Isso significa que a diminuição dos juros tende a diminuir o ingresso de dólares no País direcionados ao mercado financeiro.
Com isso, as pressões para a apreciação do real tendem a diminuir. Sob essas perspectiva, o ideal era que a cotação do dólar subisse mais, o que estimularia a competitividade da indústria.
De qualquer forma, mesmo com essas ações por parte do BC, as perspectivas de crescimento do produto brasileiro em 2011 são mais modestas que as previstas inicialmente. Tudo indica que o PIB neste ano deverá crescer em torno de 3,0%. Para 2012, ainda resta saber os próximos passos da política monetária e os desdobramentos do cada vez mais complicado cenário internacional.
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Rogério Mori é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas
Fonte: Brasil Econômico - 9/11/2011