16 de maio de 2012

E agora, Abilio?

Miguel Setas - Vice-presidente de Distribuição e Inovação da EDP no Brasil

Na semana passada, o Casino, principal acionista do Grupo Pão de Açúcar, votou o afastamento de Abilio Diniz do respectivo conselho de administração, onde ele participava desde 2000.

A decisão ocorre um mês antes de o grupo francês poder exercer o seu direito de se tornar o acionista controlador do Pão de Açúcar, previsto em acordo de acionistas assinado em 2005.

Abilio Diniz, com 75 anos de idade, é um exemplo de determinação e vitalidade. É o arquiteto de uma história de sucesso, sob qualquer ponto de vista.

A "Doceria Pão de Açúcar", inaugurada em 1948 pelo imigrante português Valentim Diniz, deu origem, sob o comando de seu filho Abilio, à maior rede de varejo do Brasil, com 160 mil empregados e cerca de 2 mil pontos de venda.

Recentemente tive o privilégio de assistir a uma palestra do empresário, que me impressionou pela lucidez e sabedoria. Abilio Diniz desenvolveu o seu próprio modelo de gestão com dois focos, além de quatro valores fundamentais e seis pilares para uma vida feliz.

Os focos de gestão são: gente e processos. "Qualquer problema administrativo está em um destes dois". Os quatro valores fundamentais são: humildade, determinação e garra, disciplina e equilíbrio emocional. Destes quatro, chega a dizer que o principal para um gestor é o equilíbrio emocional.

Os seis pilares da vida feliz são: alimentação, atividade física, autoconhecimento, controle de stress, espiritualidade e fé, e amor. Abilio confessa que chegou a praticar esportes três vezes por dia. Os seus 75 anos de idade estão carregados de uma experiência impressionante.

Com ideias simples, consegue sintetizar o conhecimento de uma vida longa de trabalho. "Eu fui um copiador incrível!", reconheceu. Uma alusão à "arte de copiar" e de "inovar na cópia", conceito que o próprio professor Jim Collins, autor de "Good to Great" e "Great by Choice", defende.

Outra reflexão interessante é referente a uma praga do mundo corporativo. Dizia na sua palestra: "Empresa que faz muita reunião é uma empresa atrasada. As pessoas se reúnem porque não sabem o que fazer ou para dividir responsabilidades."

Não posso estar mais de acordo. Muitos gestores dispersam-se em reuniões intermináveis, que acrescentam pouco ou nenhum valor à sua atividade. Criam, assim, a ilusão de que estão trabalhando, mas efetivamente estão apenas ocupando o seu tempo e o das pessoas que envolvem.

Abilio Diniz demonstra um pensamento contemporâneo. Não é por acaso que o slogan do Pão de Açúcar é "lugar de gente feliz". O seu fundador acredita que esse é o objetivo fundamental de nossas vidas: "Se você só puder escolher uma coisa na vida, escolha ser feliz".

Sabemos que é cada vez mais evidente o efeito da felicidade no sucesso das pessoas, das organizações e da sociedade em geral. Aliás, alguns estudos demonstram a correlação entre a felicidade e a produtividade e lucro das empresas.

Abilio Diniz descobriu isso na prática. Segundo a revista Forbes, o empresário é hoje o 10º homem mais rico do Brasil e o 304º do mundo, com fortuna estimada em US$ 3,6 bilhões. O destino colocou-o novamente em uma encruzilhada estratégica, da qual esperamos que saia com sucesso. A pergunta que todos fazemos é: "E agora, Abilio?"

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Miguel Setas é vice-presidente de Distribuição e Inovação da EDP no Brasil

Fonte: Brasil Econômico - 16/5/2012

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