Rodrigo Carvalho - Coordenador do Núcleo de Economia Criativa da ESPM-RJ
Vivemos hoje uma revolução. Acompanho com grande entusiasmo a mobilização, no Brasil, de todas as esferas para o tema do empreendedorismo, em particular para aquelas iniciativas denominadas startups, que cada vez mais ocupam (ainda bem!) espaço nas mídias e conversas de botequim.
Mas o que seria um startup?
Trata-se de uma nomenclatura sem definição clara, nem precisa, mas em que converge a ideia de apropriação de uma oportunidade de mercado por parte de um modelo de negócios, que se propõe a oferecer um produto ou serviço inovador, notadamente baseado em inovações tecnológicas e/ou intensivas em conhecimento.
Outro ponto importante é que um startup carrega em si a noção de tempo; isto é, não faz sentido pensarmos num negócio autodenominado startup que já existe (formalizado ou não) há 10 anos. Não há uma regra, mas por observação própria acredito que o prazo de validade para um negócio se denominar (e ser denominado) como startup é de no máximo dois anos.
Após esse brevíssimo esforço de delimitar e situar o leitor no debate e enquadramento conceitual sobre o que seria um startup, vamos aos fatos.
Tradicionalmente, o empreendedorismo no Brasil é apontado como uma saída desesperada de profissionais e pessoas que se encontram em posição fragilizada socioeconomicamente, e optam por abrir seus próprios negócios por falta de opção.
Isso ainda existe, e parece ser majoritário. Todavia, como já dito, há uma nova (e crescente) geração de empreendedores, principalmente vinculados aos setores de tecnologia da informação e comunicações, que empreendem não por falta de opção, mas, absolutamente ao contrário, dado o bom cenário econômico que estamos trilhando (dedos cruzados!), empreendem por opção.
Isso é muito bom, deve ser registrado e comemorado. No entanto, tenho observado que há uma euforia um tanto quanto preocupante.
Nas minhas recentes andanças na vida de consultor, professor e pesquisador do tema, me espantam algumas situações recorrentes que me deparo por aí, referentes a erros triviais (e fundamentais!) que muitos empreendedores de startups andam cometendo, a despeito de todos os livros, reportagens, blogs, debates, encontros e apoios de atores institucionais.
Alguns erros que mais me chamam atenção:
- Acreditam que ficarão sozinhos no mercado após introduzirem seus produtos e serviços inovadores.
- Projetam receitas sempre muito acima da realidade. Isso ocorre pela falta de percepção que a inovação não se difunde no mercado de maneira homogênea.
- O processo de inovação precisa de dinheiro e envolve muitos riscos e incertezas e, por isso, ao optarem por seguir sozinhos, sem investidores de capital de risco, apoios institucionais e parcerias estratégicas, acabam por naufragar.
- Desenvolvem produtos e serviços e depois buscam posicioná-los no mercado. Não orientam o processo de inovação pela interação estreita com os clientes/adotantes/usuários.
- Estruturam equipes com o mesmo perfil técnico e cultura. A capacidade de inovação acaba limitada.
- De maneira nenhuma quero desencorajar o movimento de empreendedorismo que emergiu nos últimos anos.
Minha intenção é alertar, e coloco-me à disposição daqueles que estão empreendendo esses startups para compartilhar (e aprender) um pouco do que estudei e tenho exercitado em minhas práticas profissionais. Até a próxima!
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Rodrigo Carvalho é Coordenador do Núcleo de Economia Criativa da ESPM-RJ
Fonte: Brasil Econômico - 14/5/2012