28 de fevereiro de 2013

Descontrole inflacionário?

José Dirceu - Advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

Os números prévios da inflação, divulgados pelo IBGE na sexta-feira passada, mostram uma nítida tendência de arrefecimento do tal ímpeto inflacionário, tão alardeado nas colunas econômicas dos últimos dias.

Começando a refletir a redução dos custos da energia elétrica, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) registrou desaceleração e atingiu 0,68% em fevereiro, ante 0,88% registrado em janeiro.

Para além dos números, alguns elementos nos auxiliam a entender que a alta de 0,86% na inflação de janeiro deveu-se a fatores pontuais e está desconectada, portanto, de um cenário de descontrole inflacionário, como o que dominou nossa economia até quase metade da década de noventa. Para começar, não é verdade que o consumo elevado seja o responsável pelo índice de janeiro.

O preço dos alimentos, relacionado a problemas climáticos como a seca nos EUA, foi responsável por mais da metade da inflação do período. Em segundo lugar ficaram as despesas pessoais, puxadas pelo aumento dos rendimentos dos empregados domésticos e pelo reajuste de itens como o cigarro.

De modo geral, em comparação com a conjuntura que acarretou alta de preços em 2012, a deste ano revela-se mais positiva. Além da queda do custo de energia, em 2013 não serão tão intensos os efeitos da pressão sobre os serviços provocada pelo aumento do salário mínimo.

Há também a expectativa de que o choque de oferta agrícola seja amenizado nos próximos seis meses, como resultado da super safra que está a caminho.

O alarmismo com que a grande imprensa vem tratando a questão da inflação tem como único objetivo engrossar a campanha pela elevação das taxas de juros que, é bom que se note, não tem qualquer relação com os itens que pressionaram os preços nos últimos meses.

Está claro que por trás da tese do descontrole inflacionário esconde-se o interesse daqueles poucos que sempre lucraram muito com os juros escorchantes, que tanto atrasaram e ainda prejudicam o nosso desenvolvimento.

Antes de forma velada, agora a volta dos juros é reclamada de maneira declarada, à revelia do bom senso e a favor de uma receita que se mostra fracassada no mundo todo.

Os críticos mais vorazes da condução do Banco Central em relação à inflação e das medidas anticíclicas adotadas pelo governo chegam ao absurdo de aceitar que nossa economia entre em recessão - o que significa corte de gastos e desemprego - para dominar a inflação.

Ao contrário, os juros mais baixos são uma necessidade premente neste momento em que a guerra cambial é usada pelos países ricos para socorrer suas economias e seus produtos.

Aqueles que defendem a combinação de juros altos e câmbio apreciado se esquecem de que estes fatores foram os principais responsáveis pela enxurrada de importados e pelo sucateamento da nossa indústria nos últimos anos.

O câmbio valorizado e os juros altos não seguram a inflação, mas seguram o nosso crescimento. Por isso, a agenda do governo deve continuar atenta às reformas que poderão aumentar a oferta e reduzir os custos da economia, melhorando nossa produtividade e competitividade.

José Dirceu é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

Fonte: IG / 28/2/2013

 

Compartilhe

Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.