- Ajuda poderia chegar por meio da compra de títulos soberanos pelo BCE ou pelo fundo de resgate europeu
LONDRES - A desconfiança dos mercados faz crescer a expectativa de alguma forma de intervenção para aliviar a crise na Espanha. A ajuda poderia chegar por meio da compra de títulos soberanos no mercado pelo Banco Central Europeu ou pelo mecanismo de socorro (EFSF, na sigla em inglês). Um reforço para a recapitalização dos bancos, em situação delicada, também é visto como possibilidade.
Por enquanto, analistas ainda não veem a necessidade de um pacote de resgate amplo, como aplicado nos casos da Grécia, Irlanda e Portugal, nem enxergam chances de uma nova injeção de liquidez pelo BCE no curto prazo. Essas opções só seriam usadas se a situação se deteriorasse muito mais.
Entretanto, cresce a ideia de que a pressão sobre os títulos da Espanha, cujos juros chegam perto de 6%, só diminuirá com alguma medida vinda de fora do governo. As drásticas iniciativas de austeridade anunciadas nos últimos dias foram insuficientes para tranquilizar os investidores. Eles questionam a habilidade do primeiro-ministro Mariano Rajoy de conseguir cumprir a meta de redução do déficit fiscal para 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.
"Existe grande desconfiança sobre a capacidade de implementar as medidas anunciadas, principalmente no que se refere à redução dos gastos das províncias", afirmou Ricardo Santos, analista do BNP Paribas, à Agência Estado. "A perspectiva de recessão também dificulta o cumprimento da meta."
A Espanha encontra-se na mesma encruzilhada de outros países da zona do euro: precisa reduzir gastos para diminuir o rombo, mas a austeridade acaba pesando sobre a atividade e impede que a relação entre déficit e PIB caia o suficiente. É uma situação de "perde-perde", como define David Mackie, analista do JPMorgan. "Uma melhora dos yields só acontecerá por meio de intervenção política externa", diz.
O primeiro passo seria a retomada das compras de títulos soberanos no mercado secundário pelo Banco Central Europeu. O BCE está fora do mercado há meses, já que as tensões tinham recuado após as injeções de liquidez realizadas em dezembro e fevereiro e a reestruturação da dívida da Grécia.
Outra possibilidade é que o próprio mecanismo de resgate (EFSF, na sigla em inglês) passe a adquirir papéis nos mercados primário ou secundário, como permitem suas novas atribuições.
Um pacote de resgate pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não é considerado no momento, embora os riscos sejam monitorados. "A chance de que a Espanha precise de assistência financeira da UE e do FMI está crescendo, mas ainda não atingimos o ponto de que isso seja inevitável", avalia Martin van Vliet, analista do ING.
Nesse caso, o mecanismo de resgate europeu, agora reforçado com 700 bilhões de euros, teria recursos suficientes para bancar a necessidade de financiamento da Espanha nos próximos três anos. "Para socorrer a Espanha há dinheiro, mas não tem se for preciso socorrer a Itália também", afirmou Santos, do BNP Paribas.
Fonte: O Estado de S. Paulo - 11/4/2012