05 de dezembro de 2012

Decepção com o crescimento da economia

Foi decepcionante o resultado do PIB brasileiro do terceiro trimestre de 2012: as expectativas apontavam para um crescimento de cerca de 1% na comparação sazonalmente ajustada com o trimestre anterior.

A realidade dos fatos mostrou um apenas 0,6% de crescimento nessa comparação. Antes desse resultado, as projeções apontavam para um crescimento da economia da ordem de 1,5% neste ano.

Com os desapontadores números divulgados, é bem provável que essas projeções sejam revistas para algo próximo a 1%. Com isso, dado que a população brasileira cresce acima desse patamar, o PIB per capita deve recuar em 2012.

Para piorar a situação, a taxa de investimento recuou pelo segundo trimestre consecutivo. O ideal era que continuasse em alta, principalmente considerando-se a necessidade de investimentos produtivos em vários setores no país (infraestrutura, por exemplo).

Esse é um fenômeno um tanto quanto lamentável, principalmente considerando-se os esforços do governo no sentido de estimular a demanda agregada ao longo do último ano e meio.

Talvez fique claro para o governo que repisar a fórmula bem-sucedida de baixar os juros e proporcionar estímulos fiscais pontuais em setores específicos não funciona atualmente da mesma forma que em 2009.

Isso porque, neste momento as famílias brasileiras estão muito mais endividadas e com elevado grau de comprometimento de renda para pagar suas dívidas, que têm um perfil mais longo que no passado recente. Isso representa um limitador natural à expansão da demanda via crédito atualmente.

Adicionalmente, com a moeda brasileira forte, parte da demanda brasileira escoa para produtos importados, penalizando a produção nacional. Os setores produtores de bens comercializáveis com o exterior (indústria, por exemplo) sofrem duramente com esse fenômeno.

Em função desse quadro, questiona-se o que mais poderia ser feito para reativar a economia. Claramente estímulos via política monetária encontram-se limitados por conta da inflação ainda em alta no Brasil (a não ser que o governo opte por uma taxa Selic real negativa em algum momento mais adiante).

Do ponto de vista fiscal, os incentivos pontuais apenas evitaram o pior, mas não têm a mesma força que tiveram em 2009/2010. O ideal seria que o governo redobrasse seus esforços em torno dos investimentos, particularmente em infraestrutura. Esse processo, além de estimular a demanda agregada, eliminaria a formação de gargalos indesejáveis na nossa economia.

Uma medida fiscal alternativa que poderia ser utilizada pelo governo, mas que não foi cogitada, seria a de reduzir o imposto de renda das famílias brasileiras.

Essa medida elevaria a renda disponível das famílias, aliando o peso do pagamento de dívidas (possibilitando o regresso mais rápido para o mercado consumidor) e também disponibilizaria mais recursos para consumo.

Essa medida, contrariamente ao que o governo tem trabalhado até o momento, não atuaria no sentido de elevar o endividamento das famílias brasileiras. De qualquer forma, dada à lógica fiscal do governo, essa parece ser uma medida com baixíssima probabilidade de ser adotada, fica a sugestão.

Rogério Mori é Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP)

Fonte: Brasil Econômico / 5/12/2012

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