15 de março de 2012

Cultura inovadora exige valorizar a diversidade

Luciano Martins Costa - Jornalista e escritor, é coordenador do curso Gestão de Mídias Digitais do GV-PEC

Os profissionais dos setores de planejamento e orçamento do governo federal - bem como seus pares em outras instâncias - costumam se queixar de que, no Brasil, o principal interesse tanto dos agentes públicos quanto da imprensa se concentra na aplicação dos recursos e raramente nos aspectos estratégicos.

Essa seria, segundo alguns desses executivos do Estado, uma das causas da falta de uma política de inovação no país. O brasileiro, de fato, é tido como criativo mas não se destaca entre os povos mais inovadores nem é conhecido por pensar estrategicamente.

Com a crescente aceitação de conceitos ligados à sustentabilidade, é certo que em alguns setores, principalmente aqueles ligados à produção agrícola e à exploração de alguns recursos naturais, têm brotado notícias de processos e produtos inovadores, mas a regra geral é a inovação como recurso para a solução de problemas, não como instrumento para criação de novas oportunidades.

Como se diz no jargão popular, estamos sempre "correndo atrás" do prejuízo. Ainda que de forma criativa, esse tipo de atitude não pode ser considerado como cultura de inovação.

O pensamento inovador só se estabelece como cultura dominante em qualquer ambiente quando estruturado com base na observação das complexidades.

Não há hipótese de se construir uma prática sistêmica de inovações a partir da análise linear do negócio em seu ambiente físico e social, porque as soluções incomuns exigem a capacidade de interpretar a maior gama possível de possibilidades e incluir etapas que geralmente parecem distantes durante os processos iniciais de criação de um produto ou serviço.

Um exemplo: o design deve considerar o pós-uso, o conceito do produto deve acompanhar projeções sobre a estratégia de comunicação para o lançamento no mercado.

É preciso distinguir dois tipos de complexidade: a institucional e a individual, sendo que a primeira se refere à natureza das relações com as instituições tradicionais do mercado e a outra se refere às interações entre a organização e as pessoas.

Essa distinção se torna importante diante do fenômeno conhecido como "instituições líquidas ou virtuais", quando as conexões através das redes sociais da internet geram grupos ativos de interesse comum que atuam circunstancialmente como instituições permanentes.

Mesmo em empresas consideradas inovadoras, o mais comum é visar exclusivamente a complexidade institucional convencional.

Processos inovadores exigem também metodologias mais dinâmicas de planejamento e controle - e poucos gestores se preocupam com a pouca flexibilidade dos modelos tradicionais de planos de negócio.

No cenário mutante que caracteriza o mercado globalizado e hipermediado, é preciso repensar as características dos produtos e serviços no que se refere a adaptações e eventual conveniência de acelerar sua obsolescência. O que pode estimular o desenvolvimento de uma cultura inovadora é um conjunto de paradigmas que, coincidentemente, também se incorpora ao conceito de sustentabilidade.

Alguns deles: ampliação da base de pensadores estratégicos para ampliar e diversificar a capacidade de planejamento, design organizacional mais natural, estruturas abertas de decisão, partilha do conhecimento, tolerância com o heterogêneo e reconhecimento às boas ideias.

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Luciano Martins Costa é jornalista e escritor, e coordenador do curso Gestão de Mídias Digitais do GV-PEC

Fonte: Brasil Econômico - 15/3/2012

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