07 de maio de 2012

Consumo e felicidade

Alexandre Leite - Diretor-executivo da Ecobenefícios

O Brasil passa hoje por um momento muito especial. Graças a uma conjuntura favorável relacionada a crescimento econômico, geração de empregos e programas de distribuição de renda, milhões de pessoas passaram a um novo patamar de consumo.

Nesse processo, essa parcela da população viu, de uma hora para a outra, suas possibilidades de compras de produtos crescerem a níveis nunca imaginados. Produtos e serviços até então inacessíveis foram incluídos na cesta de consumo anteriormente limitada a itens de subsistência.

Ao mesmo tempo, a nova classe média passou a ter acesso a produtos financeiros inéditos: o antigo carnê de compras foi substituído pelo cheque especial e cartão de crédito, com direito a parcelamentos a perder de vista e crédito rotativo.

Ou seja, junto às novas oportunidades, vieram os riscos de maior exposição financeira, dívidas e inadimplência. Considerando os níveis dos juros no país, é grande o potencial de isso se transformar numa bola de neve. Resultado?

Estresse, que prejudica não só as relações familiares, como a situação das pessoas no ambiente de trabalho, piorando ainda mais a situação.

Nesse contexto, é muito importante lembrar sobre a importância de que, junto com o poder de compra, os consumidores também tenham consciência de sua situação, questionando a real necessidade dos novos bens e suas condições para adquiri-los. E, diante do risco que isso traz aos ambientes profissionais, essa deve ser inclusive uma preocupação dos gestores de recursos humanos.

Muitos confundem o consumo consciente com a privação do acesso ao consumo, como se as pessoas que hoje estão ampliando seu poder de compra tivessem de ser penalizadas por qualquer razão e não pudessem ter acesso aos bens e serviços que as classes mais favorecidas já dispõem. De maneira alguma o ponto é esse.

O fato é que, independente do direito à livre escolha de cada um, é necessária a compreensão de que, junto com as delícias do consumo, vêm as responsabilidades para que as novas oportunidades não se tornem pesadelos, como defende o Instituto Akatu, organização não-governamental criada em 2001 para mobilizar a sociedade brasileira em torno do consumo consciente.

Nesse sentido, a lição mais importante é a regra de que, muitas vezes, é preciso postergar sonhos para o futuro - ou pelo menos não realizá-los todos ao mesmo tempo - em prol da tranquilidade no presente. E isso vale para todos, independente da classe social.

Até porque os desejos são insaciáveis e um desejo, assim que satisfeito, tende a dar lugar a outro. Ou seja, é um campo sem fronteiras, pois novos desejos abrirão caminhos para outros tão rapidamente quanto satisfeitos.

Considerando que os recursos são sempre mais escassos do que as oportunidades de consumo, mesmo entre os mais abastados é preciso ter ciência da própria condição e entender os riscos envolvidos.

É difícil relacionar o nível de consumo e a felicidade, mas pode-se dizer com segurança que consumir de maneira responsável deixa todos menos infelizes.

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Alexandre Leite é diretor-executivo da Ecobenefícios

Fonte: Brasil Econômico - 7/5/2012

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