Alexandre Espírito Santo - Professor do Ibmec-RJ, economista da Way e membro da Academia Nacional de Economia
Acredito que seja o único habitante desta nação que não assiste à novela Avenida Brasil. No entanto, como sucesso retumbante que é, sua história é assunto de destaque em todos os jornais e redes sociais, sendo, portanto, impossível ficar alheio às rusgas entre Nina e Carminha, tudo motivado pelo sentimento da vingança.
Em meados de setembro, o candidato republicano às eleições americanas deste ano, Mitt Romney, concedeu entrevista a um famoso canal da TV americana, afirmando que, caso eleito o novo morador da Casa Branca (na avenida Pensilvânia), não reconduzirá Ben Bernanke à presidência do Fed, em janeiro de 2014. Por que seria? Vingança?
Em 2005, quando o então presidente George Bush escolheu Bernanke para suceder Alan Greenspan como chairman da Reserva Federal (Fed), os banqueiros e financistas de Wall Street ainda consideravam Greenspan o "maestro", tal a veneração que nutriam pela sua condução liberal à frente do BC americano.
Alguns anos depois, entretanto, muitos dos fãs de outrora culparam-no pela crise das subprimes (o que só reforça minha tese de que banqueiro central jamais gozará de unanimidade).
Quando ocorreu a quebra do Lehman Brothers, Bernanke já era o mandatário do Fed. Os eventos subsequentes à derrocada de um dos mais famosos bancos de investimentos do mundo geraram uma crise sistêmica que se alastrou como uma tsunami pela economia global e reverberam ainda nos dias atuais.
Muitos republicanos culpam Bernanke pela grave situação daqueles dias e que colaborou de forma decisiva para eleger Barack Obama presidente dos EUA. A administração Bush foi defenestrada e o partido foi tomado definitivamente pelos radicais do tea party.
Penso que Ben Bernanke é um dos melhores economistas que já sentaram naquela cadeira e não teve essa participação deletéria que muitos querem lhe imputar. C
Como estudioso da grande depressão, vem conduzindo a política monetária de forma a evitar deflações e outros males que atormentaram a década de 1930. Inovou ao executar o chamado quantative easing (QE), que agora está em sua versão número 3.
Para esclarecer aos leigos, QE é uma postura que o BC americano adotou de comprar títulos para injetar mais dólares na economia, uma vez que as taxas de juros já se encontram praticamente zeradas.
Não acredito cabíveis as acusações da dupla Romney/Ryan de que a gestão atual do Fed é passível de auditoria. A eleição americana desse ano me parece a mais complexa da história recente.
O nível das discussões está raso, o "chororô" de ambas as partes é grande e os problemas centrais, como desemprego elevado e anemia econômica, não estão sendo debatidos de forma produtiva. O radicalismo está contaminando o clima e a vingança é de fazer inveja ás protagonistas de Avenida Brasil.
A economia global depende do fortalecimento dos EUA. Somente Brics ou Mist (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia) não darão conta da retomada sozinhos, mesmo por que a China anda desacelerando, o que preocupa. Torçamos para que os candidatos foquem no essencial nos debates que estão chegando, pois a recuperação da crise está virando uma novela interminável.
---------------------------------------------------------
Alexandre Espírito Santo é professor do Ibmec-RJ, economista da Way e membro da Academia Nacional de Economia
Fonte: Brasil Econômico - 3/10/2012