23 de dezembro de 2011

Afinal, qual é o PIB que o governo quer?

Joaquim Castanheira - Diretor de redação do Brasil Econômico

A polêmica entre o ministro Guido Mantega e o Banco Central sobre o crescimento do PIB em 2012 remete a uma antiga piada.

Diz ela que, quando morreu, Albert Einstein, um eterno polemista, foi para a porta do céu e esperou por outros recém-chegados.

Ao primeiro, perguntou: "qual o seu QI?". O interlocutor respondeu: 180. Surpreso com a inteligência do rapaz, Einstein disse: "Ótimo. Daqui a pouco, vamos discutir a Teoria da Relatividade".

O segundo ouviu a mesma pergunta do cientista. E declarou um QI de 190. Einstein comemorou novamente e lhe disse: "Excelente. Vamos discutir as bases para a paz mundial".

O terceiro recém-chegado, porém, afirmou que tinha um QI de apenas 80. Depois de alguns segundos de silêncio, Einstein saiu-se com essa: "Bem, vamos discutir o crescimento do PIB no próximo ano".

A historieta é divertida e pode servir para provocar economistas e analistas de mercado, mas não deve ser levada a sério. A discordância em torno desse número revela que o governo não tem uma projeção oficial sobre o crescimento da economia.

A previsão do PIB serve de base para o planejamento das empresas e para a elaboração do orçamento da União, dos estados e dos municípios. Importantes decisões corporativas e governamentais são desenhadas a partir de estimativas da expansão da atividade econômica.

Por isso, a diferença entre os 5% projetados por Mantega e os 3,5% calculados pelo BC provoca insegurança em quem precisa estabelecer o planejamento para seus negócios, sejam eles públicos ou privados.

Primeiro, porque a diferença significa algo em torno de R$ 60 bilhões, o equivalente a 1,5 CPMF, quando esse tributo ainda existia. Ou representa todo o faturamento anual da JBS Friboi, a maior fabricante de proteína animal do mundo.

Pior: a polêmica vem de dentro do próprio governo, o que significa que ninguém sabe qual a previsão oficial do PIB para o ano que vem. Essa indefinição também pode contaminar o ânimo dos empresários e executivos, responsáveis pelas decisões de investimentos.

O ministro Mantega diz que suas projeções são mais otimistas, porque tem instrumentos para agir caso a economia perca fôlego. Por exemplo, o corte acentuado nas taxas de juros nas últimas reuniões do Copom ainda não surtiu inteiramente o efeito.

O desemprego continua em níveis baixíssimos para os padrões históricos brasileiros, como revela a taxa divulgada ontem (ver reportagem na pág. 10). Mantega complementa que os investimentos públicos planejados para 2012 vão ajudar no aquecimento da economia.

Já o BC argumenta que utiliza os dados disponíveis, sem levar em conta as eventuais medidas de estímulo.

O problema é que o chamado mercado está mais próximo da visão do BC do que da Fazenda. Uma das medidas que o governo poderia tomar é chegar a uma previsão única (e oficial) desse dado tão importante.

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Joaquim Castanheira é Diretor de Redação do Brasil Econômico

Fonte: Brasil Econômico - 23/12/2011

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