Luiz Valle -Administrador de empresas, presidente da Cavalo Marinho - Criação e Beneficiamento de Frutos do Mar
O Brasil importa a maior parte do pescado que consome, forçando para baixo a balança comercial do peixe. E enorme parte desse problema se deve à ineficiência da atividade de captura marinha nacional.
Pescamos pouco e pescamos mal. Nossa frota está sucateada e o método de captura praticado é retrógrado. Responsabilizar a costa brasileira pela piscosidade supostamente baixa é tentar tapar o sol com a rede.
Há muito peixe em nosso mar. Mas não para ser pescado a cem, duzentos metros das praias, onde há decênios teimam nossos pequenos barcos de arrasto, que sistematicamente depredam e desfiguram o leito marinho.
É preciso inserir tecnologicamente a pesca de captura nacional, substituindo o antigo método do arrasto, condenado em todo o mundo, pelo sistema de pesca de meia água, a fim de buscar os cardumes em mares ainda não navegados.
A pesca de arrasto consiste no arrastamento de gigantescas redes lastradas ao longo do fundo do mar e também sobre ele.
Grandes placas metálicas e rodas de borracha presas a essas redes se movem no fundo e esmagam quase tudo o que encontram pelo caminho, afetando diretamente as formas de vida, cuja capacidade de recuperação é, todos o sabem, lenta.
A qualidade do peixe capturado dessa forma é muito prejudicada, pois, com o arrasto, os barcos são obrigados a permanecer no mar por muitos e muitos dias, tempo durante o qual o peixe perde frescor nos porões.
Já o segundo sistema, a pesca de meia água, bem ao contrário, é projetado para racionalizar a captura e causar o mínimo de impacto ao meio ambiente. A rede, como o próprio termo "meia água" revela, não toca o fundo do mar. É estendida na meia água e não destrói o leito oceânico.
Além disso, o consumo de combustível é muito menor; a mão de obra é mais qualificada e valorizada, posto que o uso de recursos meramente mecânicos dá lugar ao manejo de equipamentos e instrumentos de moderna tecnologia eletrônica, e o peixe chega fresco aos mercados e à mesa do consumidor, porque a captura é feita em algumas horas, apenas, de modo que o barco imediatamente retorna ao porto, carregado.
Há de se perguntar: se um método é tão mais produtivo e ecologicamente responsável que outro, por que, então, os empreendedores da pesca de captura oceânica de nosso país não substituem de uma vez por todas o arrasto pela meia água, como há muito já o fizeram países nos quais a pesca é eficiente e moderna?
Equivaleria a perguntar: por que nos idos de 1930 a cana-de-açúcar produzida no Nordeste brasileiro ainda era transportada em toscos carros de rodas maciças puxados por seis bois com argola no focinho, como era uso em Pompeia três mil anos atrás?
Por que ainda era processada nos velhos engenhos tocados pela roda de boi, enquanto mundo afora as chaminés das refinarias já cuspiam fumaça no horizonte? Ora, não temos de viver deitados eternamente no berço da defasagem tecnológica, que nada tem de esplêndido!
O governo (Ministério da Pesca e Aquicultura), a iniciativa privada, as instituições de pesquisa (como a Embrapa) e de fomento (como o BNDES) têm muito pela frente, até que os furos de nossas redes sejam remendados.
Luiz Valle é Administrador de empresas, presidente da Cavalo Marinho - Criação e Beneficiamento de Frutos do Mar
Fonte: Brasil Econômico / 17/8/2012