07 de março de 2012

A internet da energia

Miguel Setas - Vice-presidente de distribuição e inovação da EDP no Brasil

Na semana passada, a empresa de inteligência de mercado Pike Research revelou que o nível de apoio da opinião pública americana às energias limpas vem caindo desde 2009, quando 50% da população se dizia "extremamente favorável" ou "muito favorável" às novas tecnologias como carro elétrico e redes inteligentes.

Em 2010, esse índice caiu para 45% e, em 2011, para 43%.

Os resultados deste estudo surgem em um momento desfavorável para o setor clean-tech dos Estados Unidos que começou em 2008, com a crise financeira, e se agravou nos últimos anos, com a forte redução dos preços de gás natural (o custo de produção de energia elétrica com gás natural caiu 40% desde 2008) e a invasão dos painéis solares chineses, que já detêm mais de 54% de participação do mercado global de painéis (era 6%, em 2005).

A recente falência da empresa Solyndra, um dos principais produtores americanos de painéis solares, é um sintoma dessas dificuldades.

Este aparente arrefecimento da energia limpa americana está na contramão da anunciada Terceira Revolução Industrial (TRI), como a designou o economista Jeremy Rifkin no seu novo livro.

Para o professor Rifkin, esta TRI resultará da fusão do "conceito da internet" com as energias renováveis, conduzindo ao advento de uma verdadeira "internet da energia", que vai revolucionar a forma como a sociedade, as empresas e as pessoas se relacionam e se organizam.

A nova "internet da energia" será sustentada por mudanças de comportamento do mercado.

A primeira delas será o crescimento da geração de energia a partir de fontes renováveis. Cada edifício será capaz de produzir a sua própria energia, a partir de fontes renováveis, tornando-se uma pequena usina elétrica.

Essa energia poderá ser armazenada, possivelmente em células de combustível, e todos os consumidores poderão "trocar" energia entre eles, como hoje se trocam dados pela internet.

Os veículos serão elétricos e poderão carregar ou descarregar energia para a rede. Este será o conceito de uma "democracia de energia".

Um elemento crítico desta futura "enernet" (energy+internet) será o armazenamento local de energia, que ainda não assumiu formatos comercialmente viáveis.

Uma das possíveis soluções será o armazenamento sob a forma de energia química do hidrogênio.

A conversão se dá pelo processo de eletrólise da água, na qual a passagem de energia elétrica (gerada por fontes renováveis) separa as moléculas de água em átomos de hidrogênio e oxigênio.

O hidrogênio, então, poderá ser armazenado para posterior utilização em células de combustível, que recombinam o oxigênio do ar com o hidrogênio para gerar novamente eletricidade, quando esta é necessária.

Esta "internet da energia" já está sendo testada em seis regiões da Alemanha, em um projeto (E-Energy) que mereceu forte apoio da chanceler Angela Merkel.

O anunciado encontro desta semana entre a presidente Dilma Rousseff e a líder alemã, em Hannover, seria uma boa oportunidade para criar um intercâmbio entre o Brasil e as experiências europeias de redes de energia inteligentes.

Esperemos que o "tsunami monetário" não monopolize o encontro.

----------------------------------------------------------
Miguel Setas é vice-presidente de distribuição e inovação da EDP no Brasil

Fonte: Brasil Econômico - 7/3/2012

Compartilhe

Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.